sexta-feira, 26 de janeiro de 2018

The Florida Project: um diário de bordo sem nervo, sem surpresas e quase sem fim


Nomeado a Melhor Filme do Ano pelos Critics' Choice e pelos Spirit Awards, Top10 para o National Board of Review e para o American Film Institute, com nomeações nos Globos e nos Óscares. The Florida Project tinha tudo para ser um dos tesouros indies do ano. É um penoso, redundante e quase infindável exercício artístico.

O filme tem uma fotografia sublime. Isso contribui para a realização visualmente rica, com vida, sensibilidade e uma avalanche de cor (no bom sentido), numa equação que é a cartada mais forte do filme. A pequenina Brooklynn Prince (7 anos!) e a sua escalada na segunda metade do filme são a outra boa notícia, secundada por um Willem Dafoe simpático e empático, de quem é inevitável gostar (ainda que não me pareça suficiente para ser nomeado ao Óscar, muito menos para disputá-lo com o monstruoso Sam Rockwell, em Three Billboards Outside Ebbing, Missouri).

Sendo assim, como é que esta muito razoável amostra de predicados não é suficiente para, sequer, redimir a peça? Florida Project desaba numa inenarrável presunção da sua própria inocência, inenarrável porque artificial e porque literalmente impossível de narrar, e que nos atola numa dramática rotina, demasiado longa, demasiado lenta, demasiado cristalizada e entorpecedora, como uma aula ou uma missa ou um sermão que nunca acaba, completamente deslumbrado com a sua própria mancha criativa.

Florida Project é um excelente exemplo de uma boa ideia pessimamente concretizada, de um filme que sacrifica o conteúdo pela forma, equivocando-se por inteiro ao acreditar que o estilo que apresentamos é mais importante do que a história que temos para contar. Parafraseando uma frase do grande Cruyff, fazer cinema é simples, mas fazer cinema simples é do mais difícil que pode haver, e se Sean Baker é um realizador com potencial, está drasticamente longe do que se pede a um argumentista (texto coassinado por Chris Bergoch).

Costumo dizer que sabemos se um filme é bom, se reconhecemos no fim que o veríamos uma segunda vez. Digamos que é extenuante acabar Florida Project à primeira.

4/10

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