segunda-feira, 2 de junho de 2014

Non-stop. Liam Neeson paga sempre o bilhete


É a primeira boa novidade do ano. Os primeiros meses nunca se levam muito a sério, depois da ressaca dos prémios e antes dos blockbusters de Verão, mas volta e meia dão azo a um catálogo de qualidade, abaixo dos holofotes. Non-Stop é isso. Sem muita notoriedade, correndo o risco de ser velado como um de muitos, é, na verdade, um filme surpreendentemente consistente. Inteligente, dinâmico e competente do início ao fim. Parte de premissas comuns - a maior de todas, claro, a do agente assombrado e desacreditado, que terá de mover o mundo para provar que está certo, ao que lhe junta o cenário tradicional de um sequestro de avião -, e tem várias nuances líricas que seriam dispensáveis, mas é preciso tirar-lhe o chapéu: nunca é demasiado antecipável, baralha-nos generosamente e mantém o seu suspense intacto até ao bom acabamento.

O argumento é tripartido entre estreantes, ficando a realização a cargo de Jaume Collet-Serra, no seu 5º filme de grande circuito (House of Wax, Orphan), já depois de também ter colaborado com Neeson, em Unknown (2011). O catalão faz um belo trabalho. Numa história sobre mais uma viagem na vida de um Air Marshall, que vai evidentemente ser bem mais complicada do que isso, sublinho a boa utilização de um espaço evidentemente circunscrito. Collet-Serra dá muita vida à câmara, muito movimento, e faz igualmente bom uso das cenas mais claustrofóbicas. A juntar a isso, capitaliza o ambiente favorável, resultante da mística dos voos longos, e que plasma na escuridão da cabine, na profusão de desconhecidos e no mistério do ar. 

Como seria inevitável, o maior traço do filme é Liam Neeson. 20 anos depois da nomeação da Academia pel'A Lista de Schindler, a carreira do norte-irlandês deu muitas voltas. Longe da alta roda, personificado ícone de acção e profundamente institucionalizado a estes filmes série B, Neeson continua, porém, a valer o bilhete, sempre. Não por ser um Stallone ou um Seagal desta vida, longe disso, mas justamente por emprestar ao género postura, voz, carisma e um certo enfado doloroso que torna tudo mais crível. Não escondo que é dos actores por quem tenho mais estima e acredito realmente que, neste registo, continua a ser suficiente para, sozinho, fazer metade do trabalho. Num elenco que se desdobrou em muitas caras conhecidas, é impreterível nomear, ainda, as performances muito sólidas de Scoot McNairy (que vinha nos últimos anos a acumular papéis menores em filmes de peso, como Argo e 12 Years a Slave) e Corey Stoll (House of Cards).

Non-Stop é, em suma, um thriller no ponto. Certamente um dos mais consumíveis do ano.

7.5/10

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