terça-feira, 17 de junho de 2014

Copa, dia 5: o futebol perdeu nos descontos


Gana 1-2 Estados Unidos

É, por si só, um dos resultados mais honestamente surpreendentes do Brasil até agora, tendo em conta a disparidade de recursos de ambas as equipas. O grupo G fez questão de apresentar-se caótico às lides do torneio e, depois da catástrofe lusa à hora de almoço, foi a vez de, pela noite, serem os ganeses a não poderem acreditar na sua própria sorte. Quem não viu, pode sempre especular sobre que o Gana fez feio ou que os Estados Unidos estavam mais ou menos deflacionados. Mas nada disso. Os africanos são e foram infinitamente melhores e a má fortuna do seu curso de carga ofensiva chegou-nos a deixar desolados. Quando, uma eternidade depois da equipa ter-se retirado daquela área, John Brooks cabeceou uma granada caída do céu para o coração inimigo, acho que nos sentimos todos vagamente melancólicos. Porque o empate servia tão bem a Portugal mas, sobretudo, porque o jogo não merecia tamanha desfeita.

A equipa de Jurgen Klinsmann até entrou no jogo... 'à americana'. Clint Dempsey acordou para o Brasil 2014 com um golaço, o quinto mais rápido da História dos Mundiais, e deixou o Gana vagamente dormente pelos 20 minutos seguintes. Foi nessa fase que o jogo nos mentiu. Os Estados Unidos, a espaços no losango instituído pelo alemão, pareciam prometer alguma coisa, nomeadamente naquilo que parecia ser um desdobramento competente para o ataque, essencialmente via ala direita. Modestos mas frescos e equilibrados, os Estados Unidos tiveram a infelicidade de perder dois lesionados na primeira-parte (Altidore com impacto evidente no jogo da equipa) e, até ao intervalo, prolongariam essa ilusão de mérito. Depois, foi impossível, quer prolongar a miragem, quer sair do próprio meio-campo.

O Gana, em boa verdade, já antes disso estava a fazer pela vida. Com Atsu em destaque, Gyan demorou um pouco a entrar no jogo, até lembrar-nos que continua a ser um dos melhores pontas-de-lança africanos. Quando começou a crescer, o onze ganês não mais parou e, por meados da segunda-parte, o desfilar de ases e de oportunidades era pouco menos do que impressionante. Os irmãos Ayew, Muntari, Kwadwo e uma enorme entrada de Prince Boateng imprimiram ao jogo um sentido único, que só persistiu vazio com ares de tragédia. Quando André Ayew finalmente empata, numa grande jogada, honestamente só aparentava haver um fim possível para os últimos dez minutos. O espirro americano que havia de surgir não foi um balde de água fria, foi um contentor. O futebol foi demasiado ingrato para o Gana.

GANA - Nunca vou perceber como é que, depois do excepcional Mundial da África do Sul, e ao 25 anos, Asamoah Gyan decidiu abandonar a Europa e emigrar para os Emirados Árabes Unidos. Três anos depois do desterro, o que continuamos a ver é um dos melhores pontas-de-lança do continente africano. Ágil, intenso, instintivo, falhou ingratamente o golo, mas deu outro de calcanhar. Sempre um craque. Com Essien no banco, coube a Sulley Muntari liderar o miolo e o experimentado médio do Milan está óptimo, à beira dos 30 anos. Foi subindo no campo com o decorrer do jogo e ainda se lembra como é descer pela interior-esquerda, como nos tempos do Inter. Grande pé esquerdo, grande atleta. Atsu impressionou ao sentar Boateng no banco, e, em posições muito mais interiores do que no Porto, ganhou pontos. Prince Boateng entraria de qualquer maneira para provar o essencial: tem de jogar.

ESTADOS UNIDOS - O golo de Dempsey é de uma liga à parte. No resto, quem mais impressionou foi Kyle Beckerman. Exuberante no penteado, o trinco das rastas também não deixa por mãos alheias os créditos na relva. Esteve rigorosamente em todo o lado e a equipa bem lhe pode agradecer o milagre. Na direita, Alejandro Bedoya deixou boas sensações. É um ala elegante com bola. O grande Tim Howard também disse presente.

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