quarta-feira, 27 de novembro de 2013

Um Zidane amarelo


Está diferente o Borussia, como aquelas pessoas que já viveram muita coisa e que acham que os melhores dias já lhes estão para trás. Na Bundesliga, o Bayern já foi embora, com a maldade da goleada a fresco no chão sagrado do Westfallen, e na Champions, a equipa que brincou no grupo da morte do ano passado tem tido um trajecto dorido no tormento de grupo que lhe voltou a sair em sorte. Depois de entrar a perder no San Paolo e de acolher outra derrota caseira com o Arsenal, ontem, um jogo que estava ganho chegou a parecer areia a escorrer entre os dedos. A 20 minutos do fim, o Nápoles estava a um golo de pôr o Borussia fora e tinha-o sitiado na sua própria casa. Acabou 'bem', é verdade, mas deixou a nu uma vulnerabilidade existencial que jamais víramos ao espectacular vice-campeão europeu no ano passado. Nem quando o Málaga esteve a décimas de segundos de acabar com o sonho na Alemanha, se o exército de Klopp parecera menos do que inexpugnável. Perder, então, teria sido uma mera nota de rodapé à mais apaixonante equipa europeia de 2012/2013. Mas está diferente, este Borussia.

Inflamado de lesões na defesa (ontem, à parte Weidenfeller, todo o quarteto titular do ano passado ficou fora), com golpes rudes no meio-campo (a partida de Goetze, claro, mas também a paragem forçada de Gundongan) e com Lewandowski incapaz de sacudir os anticorpos de que já pulula por outras paragens, escasseiam as boas notícias. Henrikh Hamleti Mkhitaryan é uma delas. O bailarino arménio que Klopp foi resgatar a Donetsk é um futebolista de raro quilate. Na casa e na camisa #10, parece feito de cristal, tamanhas são a elegância e a luz com que conduz o jogo da equipa. Não finta demais, nem toca, nem arrisca, nem corre demais. Gosta de perpassar os adversários como se levasse a bola por controlo remoto, deixando-a ir a rolar sozinha, antes de cirurgicamente dar o único golpe de rins com que tudo define. Olhamos para ele, e é fácil imaginá-lo de fraque e cartola, com um óculo sobre o imenso nariz, tradutor de toda a sua sabedoria. Ao fim destes meses por terras germânicas, sou forçado a dizer que não é só um criativo brilhante; Mkhitaryan tem qualquer coisa de zidanesco e esse é o maior elogio que lhe posso fazer.

Foram dele os melhores lances individuais do jogo e, apesar de não ter ficado directamente ligado ao resultado, a sua batuta foi indiscutivelmente a maior inspiração amarela. O Borussia, que ao quarto de hora do fim estava a um golo de ser eliminado, já só depende si para se qualificar na infernal montanha-russa do grupo da morte. Pela nova jóia da companhia e, sobretudo, porque os dias maus vão passar, o futebol agradece.

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