terça-feira, 18 de junho de 2013

Searching for Sugar Man


Vencedor do Óscar deste ano para Melhor Documentário, Searching for Sugar Man conta a história perfeitamente inacreditável de Sixto Rodriguez, um cantor folk latino-americano que surgiu nos subúrbios de Detroit, na década de 70. Tudo o que o envolvia era um profundo mistério: desconheciam-se as suas origens, o seu trabalho ou, sequer, se tinha casa. Rodriguez era tido como um filósofo errante das ruas de uma cidade depauperada que, com as suas letras, se assimilava a uma espécie de espírito dela própria. Um dia, dois produtores encontraram-no a um bar bem pouco glamouroso... e ficaram esmagados: o que ouviram só tinha paralelo com um Dylan.

O primeiro disco não tardou mas, para espanto de todos os que investiram nele, foi um fracasso rotundo. A música de Rodriguez, pura e simplesmente, não vendia. Ninguém quis crer, e houve, pois, espaço ao próximo trabalho... altura em que, desalentada, a editora acabou mesmo por lhe fechar as portas. Sabia-se quase nada dele, e vir-se-ia a saber ainda menos, nem sequer, ao certo, como é que se teria suicidado pouco depois, em palco, mergulhado na desesperada incompreensão do próprio génio. Sixto teve um insucesso tão ridículo nos Estados Unidos que, virtualmente, não chegou a existir na cena musical. Nenhum americano fora de Detroit saberia quem ele tinha sido. Esta seria, portanto, uma não-história, se algo de absolutamente fascinante não tivesse acontecido: no cume do Apartheid, a música de Rodriguez chegou à África do Sul.

Ainda hoje não se sabe exactamente como, faz parte da lenda. Mas chegou... e teve uma repercussão monstruosa. As suas canções anti-sistema disseminaram-se num piscar de olhos, tornando-se avidamente idolatradas naqueles anos, ao ponto de terem chegado a ser música de Revolução para gerações e gerações de sul-africanos. Num país espezinhado pela ditadura e ostracizado pelo mundo, um americano que a América não conhecia vendeu meio milhão de cópias. Rodriguez "foi mais popular do que Élvis", foi um símbolo tão grande como o mistério que o rodeava. É que não havia forma de saber nada dele, para além do nome: Sixto não existira para o resto do mundo, era um fantasma. Ao mesmo tempo, devido à opressão, nunca lhe foi possível sequer imaginar que a sua música o tinha, de facto, tornado num ícone.

Searching for Sugar Man é a jornada extraordinária da busca por um mito, por parte de dois fãs sul-africanos que, no fim dos anos 90, se dedicaram a ir saber quem foi, afinal, e como morreu, o herói do qual ninguém sabia rigorosamente nada, à parte o nome. Realizado pelo sueco Malik Bendjelloul, é uma daquelas histórias bem maiores do que a vida, contada tão bem como podia ter sido. É um documentário medido com perfeição, com classe, narrativa e paciência, e articulado com uma paixão genuína, pejado de carisma, espanto e boa música (os seus originais, claro), que nos envolve profundamente, e que nos deslumbra, inspira e emociona ao mesmo tempo.

8/10

1 comentário:

Unknown disse...

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