segunda-feira, 24 de junho de 2013

Mundial U20: Empate à portuguesa


Portugal - Coreia do Sul, 2-2

Depois de se ter prestado a um golpe de teatro no jogo de estreia, a Selecção de sub20 voltou a complicar a vida por incompetência própria. Frente à Nigéria que, apesar de tudo, era o verdadeiro rival do grupo, perdeu uma vantagem de dois golos e deixou-se empatar, mesmo que ainda tenha ido a tempo de selar a vitória; hoje, perante uma selecção coreana que já lhe é bastante inferior, deixou fugir duas vantagens, e adiou uma qualificação para os oitavos-de-final que já tinha de estar a ser comemorada. Em duas pinceladas, explica-se por falta de personalidade e por défice defensivo.

Portugal tem aqui uma selecção de sub20 francamente interessante. Tem talento, tem recursos díspares e tem óptimas individualidades. Fora as notas encorajadoras para o futuro, é provável que haja condições para escrever uma história na Turquia. Agora, como é óbvio, é preciso fazer a superioridade acontecer. Pelo contrário, Portugal é incapaz de controlar o jogo. Tem muito mais qualidade do que a Coreia do Sul, mas não tem frieza competitiva nem autoridade em campo. Não tem personalidade forte, e deixa-se estar ao sabor do vento. Pode marcar golos a qualquer adversário, mas sujeita-se a sofrê-los a qualquer momento, mesmo em jogos casuais e sem estar em cheque, o que é obviamente insustentável.

Exige-se trabalho em relação à maneira de estar da equipa, tal como é preciso ser mais competente a escolher, porque a pobreza defensiva saltou aos olhos: os dois futebolistas do Barcelona! - o central Edgar Iê e o trinco Agostinho Cá - são maus que dói, o primeiro sempre aos papéis na área, o segundo incapaz de dar uso a uma bola. Dabo (Braga), na lateral-direita, também é banalíssimo. Com uma equipa pouco agressiva em geral, a consequência são 4 golos sofridos e 4 vantagens perdidas em 2 jogos, que põem em causa, de forma imerecida, o potencial desta selecção. De qualquer das formas, a situação é confortável. Portugal está em primeiro do grupo, só precisa de um empate para se qualificar e enfrentará, na última jornada, uma Cuba já eliminada. Neste contexto, é obrigatório ganhar a pole, passando os quartos-de-final a serem o objectivo mínimo, assim saiba Edgar Borges ler as vulnerabilidades da equipa.

EQUIPA - Bruma é de outro campeonato. A estrela da companhia está num nível altíssimo. Tem um pique impressionante, finta, força e remate e, rodeado de jogadores da sua idade, não há quem o consiga parar. A sua explosão, fantasia e sentido de baliza fazem com que Portugal possa marcar em qualquer ataque. Já é o melhor marcador do torneio e teve, pelo menos, mais três grandes bolas de golo. Fantástico.

Boa supresa Aladje. O filho de guineenses, que cresceu em Itália (é jogador do Sassuolo, que subiu este ano é Serie A), é o tipo de #9 que não se faz por cá: enorme, possante, exímio a atacar a bola. Não é móvel, nem lhe podem pedir para se envolver sobremaneira no jogo da equipa, mas a jogar a um toque, seja a finalizar ou a tabelar, é um recurso de muito bom nível, e continua a fazer a diferença.

João Mário (Sporting) é um senhor. O capitão é o compasso da equipa, com classe, inteligência e maturidade. É tão técnico quanto utilitário, tão exímio a fazer um passe de morte como despudorado a virar um adversário. É sempre um valor acrescentado. Sobressaiu ainda mais naquele miolo, já que Agostinho Cá e André Gomes são de qualidade muito duvidosa. É impressionante, aliás, que o jogador do Benfica possa ser titular numa posição minimamente criativa. Parece que tem blocos no lugar dos pés, tal é a quantidade de bolas que perde e de vezes que se atrapalha. Como se não bastasse, dá pouco uso à força e à altura que tem. Saiu, felizmente, ao intervalo, e Tozé (Porto), futebolista de outra casta, de toque curto e bola redonda, há de ter garantido o ingresso no onze titular.

Na defesa, olhos em Mica. O lateral-esquerdo do Sporting é agressivo e inteligente atrás, e tem uma grande canhota, muito confortável a subir com a bola. A trave negou-lhe um dos golos do Mundial. Foi o melhor de um sector com muitas dificuldades, secundado por um Llori que, mesmo discreto, é infinitamente melhor do que os que estavam à sua volta.

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