sexta-feira, 21 de junho de 2013

Man on Wire (2008)


Philippe Petit não era um equilibrista normal. Era um excêntrico que, ainda novo, descobriu que a vocação estava no extremo, no radicalismo das altas linhas, ao tropeçar num sonho numa folha de jornal: nos Estados Unidos distantes, seriam erigidas as duas maiores torres do mundo. A adrenalina, o vício pelos limites e a provocação da morte corriam-lhe no sangue e, nesse momento, Petit e o World Trade Center cruzaram-se para um casamento que teria mesmo de existir: entre as Torres Gémeas havia um vazio para ser conquistado. Man on Wire é a crónica de todos os passos do francês até esse acontecimento tão alucinante quanto icónico, no dia 7 de Agosto de 1974, considerado "o crime artístico do século XX".

Durante uma hora, e sem o conhecimento de mais ninguém a não ser a sua equipa clandestina, dada a total ilegalidade do que estava em questão, Petit fez 8 vezes a travessia entre as duas torres, com tempo para parar e dar espectáculo, enquanto se equilibrava em não mais do que um cabo de aço, sem qualquer protecção sobre o vazio, a quase meio quilómetro de altitude. Um vulto a pairar no meio do céu, literalmente com uma fina linha a separá-lo da morte e a fazê-lo muito maior do que os outros mortais. As imagens do momento são inacreditavelmente grandiosas.

O documentário é fidedigno à essência da proeza, ao seu deslumbramento, e, fora a glória da hora, transmite-nos isso através de alguns testemunhos-chave, tal como plasma toda a excentricidade de Petit como um personagem extraordinário, um one of a kind. Globalmente é, no entanto, mais sofrível. Não é especialmente substancial nem tão inspirador como podia ter sido, é um pouco pretensioso, e o seu maior problema é o facto da acção consistir, em grande parte, na reencenação de todos os passos clandestinos que foram dados entre a véspera e o dia do acontecimento, algo que raramente fica bem, e que é bem mais desinteressante para perder tempo do que a dimensão lírica da história de fundo. Acredito que a realização do britânico James Marsh podia ter feito bem melhor com tamanho legado, apesar de Man on Wire ter ganho, de facto, entre muitos outros prémios, o Óscar de 2009 para Melhor Documentário.

6/10

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