terça-feira, 4 de junho de 2013

As cenas que só vamos encontrar umas vezes na vida


"That was the hardest scene I’ve ever had to write. (...) I try to make the readers feel they’ve lived the events of the book. Just as you grieve if a friend is killed, you should grieve if a fictional character is killed. You should care. If somebody dies and you just go get more popcorn, it’s a superficial experience isn’t it?"
Entrevista brilhante de R. R. Martin à Entertainment Weekly

Com todas as grandes coisas que a televisão americana fez nos últimos anos, tem surgido insistentemente uma questão: e se a coroa da ficção, afinal, já não morar no cinema? Depois de extasiar no pináculo da terceira temporada de Game of Thrones, numa taquicardia literal, lembrei-me desse debate filosófico, e acho que tive a certeza: é impossível fazer melhor do que aquilo.

Em termos de agressão emocional e da mais absoluta incredulidade, foi o desfecho mais espantoso que alguma vez presenciei. Foi uma alucinação tão radical como ser real, e, em toda a sua monumentalidade, violentou e deslumbrou ao mesmo tempo. É inacreditável que fantasia nos possa chocar de tamanha forma, roubar-nos o chão e dar-nos uma sensação tão genuína do ser irremediável. Estava a acontecer, e enquanto nos esmagava o cérebro, tudo o que queríamos instintivamente era arranjar uma solução, era poder acreditar noutra coisa qualquer. Acreditar que, apesar de tudo, talvez não fosse como parecia, que havia uma saída, que havia esperança. Isso, e ser tudo ainda mais cru e mais providencial. Foi total, e muito poucas vezes teremos a sorte de ser maravilhados por uma criação dessas.

Tenho vivido um debate moral sobre atacar os livros ou não. A razão diz que deveria, mas abdicar da adrenalina doentia que se vive em dias como hoje, quando o génio da história se funde com a magistralidade visual da série, continua a parecer um preço muito agreste a pagar. Seja como for, o velhote redondo de barbas brancas, a parecer, ele próprio, saído das suas histórias, é um deus literário.
"you read that certain kind of fiction where the guy will always get the girl and the good guys win and it reaffirms to you that life is fair. We all want that at times. There’s a certain vicarious release to that. So I’m not dismissive of people who want that. But that’s not the kind of fiction I write, in most cases. It’s certainly not what Ice and Fire is. It tries to be more realistic about what life is. It has joy, but it also had pain and fear. I think the best fiction captures life in all its light and darkness."
R. R. Martin é o cume do que se pode escrever no Fantástico. Domina as fórmulas como o maior fã, tem a cultura empírica de um jubilado, e, mesmo assim, e acima de tudo, conhece de vida e de pessoas como o melhor dos pensadores. Ter podido chegar às massas via a abençoada HBO, é coisa que temos o dever de agradecer todos os dias.

1 comentário:

Anónimo disse...

O unico conselho que te posso dar o mesmo que a voz da razao que dizes ouvir - le os livros. A menos que sejas muito bom em separar livros e serie, e praticamente garantido que vais ter problemas com a adaptacao, por muito bom trabalho que eles no geral facam e por muito que saibas que isto tem um orcamento que nao pode ser ultrapassado. Mas em contrapartida tens acesso a muito mais do que aquilo que a serie te tem proporcionado.

O Red Wedding nao deixou de ser um murro no estomago mesmo para quem leu os livros e ja sabia ao que ia ;)

Muitos parabens pelo blog, ja acompanho ha alguns anos e e realmente muito bom :)

S.

(Desculpa a falta de acentos, estou a escrever isto a partir do telemovel)