terça-feira, 7 de maio de 2013

No campo não há desculpas


O Benfica só podia ser campeão se ganhasse o derby. O melhor Sporting do ano, um Sporting que subiu à Luz para ganhar. O Benfica ganhou o derby. Mas o Benfica só podia ser campeão se ganhasse nos Barreiros. No tormento do Atlântico, no stadio horribilis onde o próprio rival perdera a esperança. O Benfica ganhou nos Barreiros. Mas o Benfica só saberia estar nesta fase se, um quarto de século depois, voltasse finalmente à sua final europeia. Derrota num inferno em Istambul, 3 dias de descanso, 50 jogos nas pernas da época. O Benfica chegou à sua final. Enquanto não se sentiu campeão, é possível que este Benfica tivesse ganho a qualquer equipa. Falhou no momento em que achou que já o era, quando estava tudo fácil demais para poder falhar.

Na Luz, o amarelo do Estoril chegou a parecer um borrão de Borussia. Cada abertura e podia ser a morte. Percebeu-se, aí, que não era questão de tempo, que os astros não se iam alinhar nas botas de Lima ou de Cardozo, mais cedo ou mais tarde. O Benfica forçou e não conseguiu. Esperou, sofreu, quis crer, mesmo que mais a pé do que a correr, mas ontem era dia do destino ter a sua ironia. Como num filme de terror, a equipa nem quis ter medo. Mas foi consumida pela dúvida, e acabou afogada na aterradora visão de estar a morrer na praia. O Benfica olhou para o abismo, e o abismo olhou para o Benfica. Numa lei de Murphy providencial, a equipa superou todos os jogos que iam correr mal, só para falhar no último, o único que só podia correr bem.

O Porto já tinha perdido, Vítor Pereira já era uma caricatura de jornal. O Benfica já tinha ganho, Jesus já tinha um contrato em branco para assinar. Agora voltam ambos ao nervo da relva, a dependerem exclusivamente de si para lá chegar. Ninguém que tenha visto o Benfica sucumbir ontem às suas circunstâncias, pode ter pensado noutra coisa que não uma incineração no Dragão. Especialmente os próprios benfiquistas. De repente, é o rival quem volta a ser favorito, ao encarar um Benfica que, como aconteceu torturantemente nos últimos três anos, volta a ter tudo a perder. E já se sabe como é que isso tem corrido. Este não deixa, contudo, de ser o Benfica que fez o melhor jogo do ano há 5 dias, que foi a melhor equipa da temporada, e que está em duas finais; como o Porto não deixa de ser o grupo que desiludiu as expectativas, que saiu envergonhado de quase todos os palcos, e, especialmente, o barco onde todos os marinheiros descrêem o capitão.

A única coisa certa do Porto-Benfica de Sábado é que será o jogo de uma vida. Nunca "o jogo do título" terá sido uma coisa tão cruamente literal. Todo um ano inteiro de futebol será jogado em cada palmo daqueles 90 minutos, e ganha o campeão. É uma liga de jornadas, mas a acabar numa finalíssima com golo de ouro. É um guião perfeito. Também porque, no fim, não contarão as miudezas de caminho, não contará o paleio para tolos do que foi limpinho e do que foi sujinho. No fim, Porto e Benfica terão ambos a sua uma e mesma chance. Sem azares, sem desculpas, sem conspirações. Merecerão cada fio da sorte que tiverem. No fim, só será o melhor quem tiver batido o melhor.

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