terça-feira, 30 de abril de 2013

Os 7 minutos em que se pôde tudo


Minuto 88. 2ª mão da eliminatória. Mais do que acabado, estava morto e enterrado. Decidido, sabia-se, há uma semana, num inferno do coração da Europa. Hoje, a fúria do Sul não tinha simplesmente chegado. Espreitou no primeiro quarto-de-hora, mas fugiu logo depois, acabando obliterada durante toda uma segunda-parte dolorosa, em que o gigante amarelo se passeou em pleno Bernabéu com uma arrogância lânguida, própria de quem já ganhou.

Isso porque o Real, ainda cedo, também decidiu perder. Muito antes de, por um cruzamento casuístico, Benzema ter entrado com a bola pela baliza de Weidenfeller adentro, tinha sido o próprio Real a desistir. A equipa nunca se convenceu verdadeiramente que 90 minutos chegavam para a herculez da tarefa; os últimos 45 foram, então, passados na penitência de uma via sacra.

Acontece que o futebol se dá mal com estas pré-determinações, mesmo quando a audácia não é que chegue para ser protegida pela sorte. O Borussia tinha ganho, o Real tinha perdido, e já tinham quase todos assinado a rendição. Quase. De todos os jogadores do Real, mais ninguém podia ter marcado aquele golo ao minuto 88. Porque, nessa altura, já não tinha a ver com arranjar soluções para marcar; tinha a ver com acreditar incondicionalmente que ainda havia todo o tempo do mundo. Sérgio Ramos pode ter muitos defeitos, que os tem; ao minuto 88, porém, o Bernabéu não tinha nenhum madridista maior do que ele.

Os 7 minutos que se seguiram, mesmo que o Real não tenha chegado a conseguir o seu milagre, são uma página tão bonita da meia-final como o festival amarelo no Westfallen. O Real foi pior do que o adversário, do que o seu espectacular adversário, em 170 minutos da eliminatória, e não mereceu chegar a Wembley. O facto de ter estado tão ridiculamente perto nos últimos 7, e de termos podido viver, com o coração na boca, esse contra-relógio irracional, em que tudo passou a ser possível, em que havia algo maior do que a inferioridade, do que a desistência e do que a derrota, é um tratado acabado do futebol como jogo mais bonito do mundo.

O Borussia há de ser Campeão da Europa. Merece-o em cada toque, e em cada segundo da maneira de estar. O Moudrid acaba hoje. Três anos a que a História fará jus, três anos em que o Real ganhou um campeonato impossível, e em que ganhou o direito de voltar a ter orgulho europeu. Três meias-finais perdidas, porque é futebol, e porque não era para acontecer. O Madrid lembrará Mourinho, e Mourinho lembrará o Madrid, como coisas de um romance inacabado que, quem sabe, um dia ainda voltará a ser. Agora é hora de irem tentar recuperar a Orelhuda longe um do outro. Não acabou feliz, mas nunca acabaria indiferente. Faz sentido que tenha acabado nestes 7 minutos imponderáveis.

Sem comentários: