sexta-feira, 12 de abril de 2013

Jesus. O Benfica europeu e o resto


"Do meu ponto de vista, a unidade justa para comparar treinadores de topo é a que mede o desempenho europeu em provas de clubes: Liga dos Campeões e Liga Europa. (...) Esta medida permite opinar a partir de factos, o que dá sempre jeito. Taças conquistadas, antes de mais, mas também acesso a finais, meias-finais, quartos-de-final; vitórias, empates e derrotas. Golos marcados e sofridos. Tudo isto é factual."

Quartos, Meias, Quartos, Meias. Goste-se o que se quiser, mas, no fim do seu quarto ano como treinador do Benfica, ninguém poderá duvidar remotamente da competência extrema de Jorge Jesus. Quando comecei a ver futebol, era quase redundante o Benfica sair das competições da UEFA antes do Natal. Chegou Jesus, e quase duas décadas passadas dos resquícios do último Benfica europeu, há qualquer coisa que ressuscitou. Uma Liga dos Campeões notável, no ano passado, perdida, de forma ingrata, para o futuro campeão; outras duas meias-finais europeias em três anos, feito repetido meio século depois do lendário Bella Guttmann, por aquele que já é o treinador do Benfica com mais vitórias europeias. No reinado de Jesus, o Benfica está a cometer a barbaridade de ser o sexto! melhor clube europeu a nível de resultados continentais.

Dir-se-á que teve condições incomparáveis às da longa travessia no deserto que o antecedeu. Que teve uma presidência estável, que sempre o preservou, e uma liquidez financeira e um departamento de futebol que lhe permitiram acumular plantéis com um potencial extraordinário. Dir-se-á que, ao fim e ao cabo, ganhou pouco, e que perdeu em muitos momentos dolorosamente decisivos. E lembrar-se-á sempre que não é um treinador sexy, dos que ficam bem na fotografia. Isso tudo, e pesa-se na balança, e continua a haver betão a desequilibrá-la a seu favor.

À parte a Europa, o Benfica de Jesus começou a vender como um clube grande, e pôde deixar de invejar o rival a Norte. 2 jogadores no Real, 2 no Chelsea, 1 no City, 1 no Zenit, alguns 170 milhões de euros no seu legado, só em transferências. O Benfica só foi campeão uma vez, é verdade, mas lutou abertamente por dois outros campeonatos, e, até ver, vai na frente neste. Antes de Jesus, o clube passou 4 anos sem ser sequer o runner-up. Os títulos rezam a História, mas não necessariamente a competência de um treinador. Com ele, também passou a ser impossível ver o Benfica passar vergonhas precoces. 3 taças da Liga e 2 meias da Taça, com um pé no Jamor desta vez. Nos entretantos, se calhar, o maior elogio que se lhe pode fazer: a equipa jogou quase sempre um mar de futebol.

Os benfiquistas lembrar-se-ão da tragédia de há dois anos, quando usufruíam exactamente das mesmas circunstâncias do que hoje, e é difícil que possam perdoar nova não conquista de nenhum dos grandes títulos. Certo é que, seja qual for o fim, o clube tem no banco um dos 20 melhores treinadores europeus da actualidade, e é bom que tenha noção disso.

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