sexta-feira, 22 de março de 2013

O complexo de inferioridade que é maior do que nós


Dizia o David Borges, na SIC-Notícias, que estamos a assistir ao definhar desta geração de jogadores. Se falasse, o fatalismo era português. Há menos de um ano, estivemos a dois penalties de eliminar o Campeão do Mundo e de chegar à final do Campeonato da Europa. Deslumbrámos com o nosso futebol, cá dentro e lá fora, fomos uma das alegrias do Leste e o Ronaldo saiu de lá rei da Europa. 8 meses depois, porém, há quem já veja o fim da geração. Que coisa patética. Não somos hoje, como nunca fomos, uma selecção de fartos recursos. Temos poucos, mas, sorte da vida, até somos bons, e passámos os últimos 15 anos a provar isso mesmo, assim que acrescentámos capacidade competitiva para sobreviver às nossas limitações de sempre. Talvez esta já não seja a Geração de Ouro, mas continuamos a ter o melhor do mundo, um talento médio que mete respeito, continuamos a não falhar fases finais e estamos, "em título", nos quatro melhores do continente.

O que nos voltou a assombrar hoje, é o que nos assombra desde sempre: é a falta de mentalidade para os jogos feios. É uma coisa cultural, e é produtividade, rendimento, eficiência. Uma coisa que não temos enquanto país, enquanto povo, nem enquanto futebol. Em qualquer fase final, somos tão bons como os melhores. Transcendemo-nos, não sabemos fazer feio nos dias de gala. Mas nos jogos cinzentos das manhãs de fim de Inverno em Telavive, a responsabilidade engole-nos vivos. Somos uma equipa de rapazes catatónicos, que agonizam a passo, e que não parecem ter remédio a não ser deitar tudo a perder. Não é vedetismo ou falta de vontade, não é de propósito; é défice de educação, de atitude, de produtividade. Paulo Bento resumiu-o bem na conferência de imprensa: "não sabemos lidar com o sucesso." Não temos, realmente, bagagem de gente grande, estaleca para carregá-lo todos os dias. Também por isso é que devemos evitar baboseiras tão à portuguesa, como choramingar na antevisão que o jogo não era decisivo. Para nós, todos os minutos da qualificação são decisivos, porque não temos estofo para geri-los de outra maneira. Todas as oportunidades deviam ser boas para ter isso presente.

Quero crer que tudo há de acabar bem, como tem acontecido quase sempre, mas já achei mais. Há muita gente em má forma, há muita dificuldade do banco em instigar mudanças na equipa, e já chegámos a um momento em que estamos a brincar efectivamente com o fogo. Hoje, ao minuto 90, estávamos com pé e meio fora do Brasil, num grupo tão miserável como o nosso, e é bom que se perceba a dimensão dessa barbárie. Na terça-feira, não vamos ter acordado com a mentalidade dos alemães, mas é hora de alguém falar grosso naquele balneário, e gritar a toda a gente que a nossa velha história de máquina de calcular pode acabar estupidamente mal. Em Baku não haverá o exemplo de Ronaldo, mas, mesmo que sem método e sem mentalidade, com a faca nos dentes e em esforço, é bom que haja o exemplo de quem já aprendeu a ganhar.

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