segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

O derby. Vítor Pereira ganhou antes, ganhou durante e foi pequeno depois


"Vítor Pereira é um treinador com imensa qualidade. Sabe muito do jogo e sobretudo sabe que é bom. Sabe que sabe. É por certo muito difícil para o treinador do FC Porto não ter o reconhecimento dos media que sabe merecer. Tal não seria especialmente grave se Pereira soubesse lidar com o facto. Não sabe."

Aqueles primeiros 20 minutos entram de chofre para uma galeria especial. Se dúvidas houvesse, o futebol português de hoje é mesmo aqueles dois e os outros. Toneladas de qualidade, individual e colectiva, intensidade e altura para estas coisas. 20 minutos à Premier League, a correr sem olhar para trás, com as veias quase a estalar e futebol a rodos. Se não acontecer nada de estranho, haverá mesmo Liga até ao fim, e com ambos a jogarem certos de que a vão ganhar. O que é bem menos comum do que parece.

Ganhou o Porto. Porque o Benfica parecia sinceramente melhor e jogava em casa, porque eram os azuis quem vinha sem o seu melhor e mais preponderante jogador, e porque, por mais ingrato que isso possa ser, Jesus é uma certeza, Vítor Pereira ainda não.

A antevisão que o treinador do Porto fez ao derby impressionou. Falou grosso, sem pejo nenhum, quase a anunciar aos sete ventos que ia ganhar o jogo mais crítico do ano. Não é para todos, e também não são todos que conseguem vender tamanha confiança. Sinceramente, para Vítor Pereira, maldito estigma que o assombra, pareceu que estava com medo de qualquer coisa. Não estava, muito pelo contrário, e a equipa provou-o para lá de todas as dúvidas. Pela adultez que espalhou no campo, pela confiança que emana cronicamente e pela capacidade táctica com que condicionou o futebol adversário. Não estava, mas pareceu, e esse tipo de percepção, infelizmente para ele, não é coisa contra a qual se possa lutar.

Certo é que este Benfica também é uma grande equipa, com um poderio temível, soluções intermináveis e um sustento estratégico que lhe permite jogar nos excessos de Jesus (praticamente com um único médio, mais uma vez), e segurar-se mesmo assim. No fim de contas, o espectáculo foi altíssimo, o empate é adequado e é isso que devia passar à História.

Percebo a indignação pelas não expulsões de Maxi e Matic, que podiam ter acontecido, sobretudo na entrada assassina do uruguaio. Mas são casos, e não era futebol se não acontecessem. O jogo, porém, foi muito maior do que eles. Jesus disse, no fim, que ambos mereciam ter ganho, e é isso que o jogo merecia que se tivesse dito. Não merecia, por certo, o espectáculo de Vítor Pereira na sala de imprensa (acompanhado, depois, por um Pinto da Costa ainda pior na zona mista). Porque o resultado foi melhor para o Porto. Porque o que tinha para provar, a equipa provou superiormente em campo. Porque não se fazem tamanhas birras por arbitragem, muito menos em clubes grandes, ainda menos nestes jogos. E porque, acima de tudo, toda a gente percebeu que o problema não era o suposto roubo de igreja. O problema foi o complexo de inferioridade de Vítor Pereira, por mais injustamente motivado que possa ser, materializado naquele "o Benfica é isto, pontapé para a frente no Cardozo", e que o post do Lateral Esquerdo desmonta tão bem.

Vítor Pereira é bom treinador, provou-o a pulso. No futebol, como na vida, porém, o reconhecimento vem com o tempo, e para uns, demora mais do que para outros. Não estar à altura das ocasiões, como ontem, naquela sala de imprensa, é exactamente o tipo de coisa que não fará nada por ele.

1 comentário:

Anónimo disse...

Não acho que o Porto tenha sido superior, aliás, até certo ponto foi... mas jogaram o seu melhor futebol e o Benfica nem a 15% do que sabe jogou, mesmo assim conseguiu parar um Porto que estava a jogar nas horas.

Para não falar que na 2 Parte, o Porto pediu aos anjos e demónios para não ver os 3 pontos ficarem em Lisboa, no final... Perdeu tudo com a atitude de um presidente que disse uma vez não falar de arbitrários e de um treinador que mostrou falta de humildade.