quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

Guardiola. O caminho mais fácil ou a democratização do futebol europeu


Apostava que não acontecia. Na Europa hispano-inglesa, só parecia haver verdadeiramente um destino para Guardiola: a Premier League, e de azul, fosse na capital ou em Manchester. O futuro de Pep era o segredo mais desejado e, ainda assim, o mais mal guardado do Verão. Ao jeito dos velhos saques bárbaros, porém, veio um gigante da Baviera, e raptou o par mais concorrido da festa.

Ainda custa a crer nesta bomba de Janeiro, mas não estamos a falar nem de um clube, nem de um campeonato qualquer. A Bundesliga tem a melhor média de assistências da Europa, um poderio económico ao nível dos maiores, e o seu nível qualitativo actual fica patente no facto das três equipas alemães na Champions terem todas ganho os respectivos grupos. O Bayern, claro, dispensa propriamente apresentações. Basta mirar a ficha do plantel, e o cartão a identificar Munique como sede de um tetra-campeão europeu (e bem vivo, ou não tivesse estado em 2 das últimas 3 finais da UCL). 

Quando chegou a hora, o Bayern podia pagar tanto como os outros, podia oferecer um plantel tão bom como os outros, e tinha uma Liga a pulsar de vida, com tudo para crescer. No plano mais lírico, Guardiola muda-se de uma lenda europeia para outra, averso às perniciosidades dos novos ricos, e abraça o desafio de cruzar um paradigma futebolístico inteiro, indo do toque espanhol, que ele próprio reinventou, até à pujança germânica. Também nesta perspectiva, custa-me a crer que o catalão vá tentar fazer do Bayern o tiki-taka 2.0. Os treinadores não rasgam a sua filosofia quando mudam de casa, mas Guardiola parece exactamente o tipo que terá a sensibilidade histórica-estilística-contextual para recriar a equipa onde chega, mas sem nunca deixar de ser ele próprio contaminado por ela. O Bayern não ficará igual, mas também não passará a ser um projecto de Barcelona. O que será, é uma das questões cheias do próximo ano.

Claro que nada disto faz da Alemanha o lugar mais entusiasmante do mundo para jogar à bola.  Guardiola fugir de Inglaterra (e do Brasil...) é um desfecho agreste para o que é o futebol de hoje, e parece mesmo uma decisão de quem se quis proteger de alguma coisa. Na verdade, terá mesmo sido, e isso não é segredo para ninguém. Na Alemanha, Guardiola terá tempo, e poderá gerir melhor a pressão com a qual, nunca escondeu, lida a custo. No momento de escolher, não acho que o móbil tenha sido o caminho mais fácil; Guardiola escolheu o sítio em que achou que se sentiria bem, onde poderia usufruir mais e contribuir melhor, e isso não é coisa que o deva julgar. Damos mais se gozarmos do que fazemos, e Pep tem muita coisa para dar, mesmo que agora não queira viver da adrenalina e dos jogos mais selváticos que o mundo quer ver.

Pelo caminho, e como, se calhar, já merecia há muito tempo, a Bundesliga arrisca-se a furar a ditadura mediática hispano-inglesa que ordena no futebol europeu. Quem sabe, Ronaldo ou Mourinho até se mudam para Paris, e acabam a nascer duas Ligas num Verão só.

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