quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

A CAN é sempre especial, mesmo quando acaba 0-0


Níger 0-0 Congo

Ver a CAN é prescrição para um livre arbítrio feliz, mesmo quando acaba 0-0, e o espectáculo não foi tão grande como nos habituaram. A CAN, sobretudo nos Níger-Congo deste mundo, quase incontaminados pela Europa, é a alta competição sem as responsabilidades da alta competição. É jogar à bola sem pensar se aquilo é táctico o suficiente, é recusar defender ostensivamente, é entrar sempre a pés juntos, fazer cortes malabaristas, só jogar parado ou a sprintar, atacar, de preferência, com todos os jogadores da equipa, e ter vida a ser celebrada nas bancadas. A CAN é uma espécie de jogo de playstation em mais radical, um non-sense para gozar tremendamente, mesmo quando os jogos até são mais ou menos cinzentos como este.

O Níger, um dos países mais grosseiramente pobres do mundo, foi quem saiu feliz, ao conquistar o primeiro ponto da sua História na CAN, nesta sua terceira presença. E o Níger fala bem da poesia da competição: a única forma da equipa pagar a presença na prova, foi o Governo instituir um imposto extra no país. Coisas de outro universo. Sem talento para oferecer, vale a pena reconhecer o mérito de Gernot Rohr. O alemão que, no ano passado, fez um trabalho notável no espectacular Gabão, metodizou a equipa dentro do possível, e isso notar-se, é revelador e tanto. O Níger conseguiu ser relativamente arrumado e disciplinado a defender, mostrou ideias para sair a jogar e mostrou vontade, mesmo que, na prática, e irremediavelmente, tenha existido sempre um buraco negro de critério no último terço. Aquela que é, de longe, a equipa mais fraca do grupo teve, mesmo assim, 3 ou 4 grandes oportunidades, incluindo a última, já nos descontos, e merecia ter sido feliz.

Favorito na partida, com individualidades claramente mais capazes, o Congo acabou por fazer má figura. A defender, então, a pobreza foi constrangedora, e com outro adversário, tantas bolas perdidas teriam necessariamente acabado em derrota. Com um Níger macio, o Congo lá viveu para poder ganhar, no seu 4-4-2 puro, a canalizar todo o futebol pelas alas, e sem forçar, criou o suficiente para o fazer. A equipa, contudo, nunca foi agressiva como se exigia, foi parca em instinto, e foi quase sempre dolosa, e agora será forçada a bater o Mali para poder seguir em frente.

NÍGER - O melhor em campo foi o guardião Kassaly (29 anos, Chippa United, da África do Sul). Com duas defesas excepcionais, à queima-roupa, e frente à estrela adversária da companhia, foi ele o grande responsável pelo dia histórico da sua Selecção. Moussa Maazou (24 anos, também do Chippa Utd, depois de ter andado desde novo pela Europa), é o capitão, e o mais talentoso do conjunto. Na extrema-direita, em diagonais para o meio, foi ele a referência, e a solução crónica para arrastar a equipa para a frente.

CONGO - Mbokani (27 anos, Anderlecht, eleito ontem melhor jogador da Liga Belga!), é um futebolista de outro nível. Chamou-se sempre a jogo, e é verdade que esteve em quase todas, mas não pode falhar os golos feitos que falhou. Kabangu (27 anos, TP Mazembe, do Congo, o bi-campeão africano em 2009 e 2010) deixou excelentes referências, na meia-direita. É rápido, atlético e põe a bola onde quer. Incompreensível a sua saída logo no início da segunda-parte, num conjunto de opções que não abonam a favor do histórico Claude Le Roy (vencedor da CAN em 1988, com os Camarões).

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