segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

Brave


É o pior Pixar de sempre.

O argumento é desolador, e envergonha o nível extraterrestre em que a companhia colocou a Animação na última década. A aposta em feitiços e no animismo acéfalo torna doloroso pensar sequer no portefólio da Pixar (gente que já contou histórias impagáveis com ratos e robôs). A Ursa, que usurpa praticamente todo o filme, chega a ser intolerável. É uma ideia má à partida, e que, além disso, ainda é abusiva e mal feita. Não tem piada, não tem coração, e é um fracasso absoluto como metáfora sobre ultrapassar as diferenças. Haveriam 300 maneiras melhores para contar essa história, incluindo a convencional. Além da forma ser má, o conteúdo não é melhor. Os trechos que fazem a acção (as lendas do passado, a disputa pela mão da princesa, etc) não têm interesse, e a moral da história é de uma vulgaridade a toda a prova, no quebrar a tradição e lutar pelos sonhos e seguir o coração. É o tipo de contos 2+2 que se faziam há 15 anos atrás.

A isso não serão estranhos os responsáveis pelo projecto, Brenda Chapman e Mark Andrews, que realizaram e escreveram. Chapman estava na reserva há 13 anos!, depois de uma década de 90 mais ou menos movimentada, em que escreveu a Bela e o Monstro (1991), supervisionou o Rei Leão (1994) e se tornou na primeira mulher a dirigir um filme da Animação (Príncipe do Egipto, 1998). Se Chapman é uma veterana, Andrews é um estreante: Brave foi o seu primeiro argumento e, a par de John Carter, a sua estreia na realização. A Pixar ter achado que esta fusão estranha de opções discutíveis ia funcionar, é coisa que me ultrapassa. Certo é que o tiro no escuro foi um falhanço sonante.

É pena, por uma infinidade de razões. Desde logo, porque é desencorajador que a incomparável Pixar se chegue à frente com algo tão pobre, quando o seu último verdadeiro filme de génio já tem 3 anos, e, ainda por cima, sendo Brave a sua única não-sequela entre 2009 e 2014. Depois, tinha a novidade de estrear uma protagonista feminina, e Mérida era um boneco cheio de sumo, num ambiente tão carismático quanto possível - a Escócia mística das montanhas -, que foi recriado com boa envolvência. Por estes dias, contudo, escasseia a imaginação e sobra o comodismo, e o resultado é o que se vê. A única coisa absolutamente brilhante de Brave é a banda sonora do escocês Patrick Doyle (duplo nomeado ao Óscar), que deslumbra sempre que entra em cena, e é, com propriedade, uma das trilhas do ano.

Depois de um fim de década passada em que triturou a concorrência, e parecia já não ter limites (de 2007 a 2009, ofereceu Ratatui, WALL-E e Up), a Pixar parece, não só perdida, como em clara regressão. Oxalá a recordista de Óscares de Animação falhe as Nomeações pelo segundo ano seguido, a ver se soa o alarme. É que o filme do próximo ano não é mais do que a sequela de Monstros e Companhia...

5/10

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