sábado, 11 de agosto de 2012

México, uma competitividade singular, e o Brasil que não sabe ganhar


A postura em campo das selecções mexicanas é sempre qualquer coisa de espectacular. Equipas tão talentosas quanto duras, tão capazes de se superarem como de abordarem qualquer jogo avisadas, que dificilmente não cumprem objectivos mínimos, e que nunca vão para casa sem vender cara a derrota. Os mexicanos são um manual de cultura competitiva. Vê-se na seriedade, na maneira de estar, sem pequenez de espírito contra os grandes, sem serem apanhados desprevenidos contra os pequenos. Se a estaleca muitas vezes não dá para bater os maiores, a geração que se sagrou hoje campeã olímpica merece, pelo menos, o benefício da dúvida para os próximos anos: até à final de Londres, foram campeões do mundo de sub17, 3ºs no mundial de sub20, e ganharam Toulon.

Hoje, lavaram autenticamente, e com toda a naturalidade do planeta, a selecção A brasileira. Aversos às insinuações de superioridade, meteram a faca entre os dentes e foram massacrando a super-canarinha. Aos 30 segundos já ela lá morava, e, valendo a verdade, o Brasil nunca foi mais do que uma borrão alegre de malabarismos inconsequentes. Quando Mano Menezes, desesperado, desfez qualquer vestígio de táctica que pudesse ter, os mexicanos tiveram 4 bolas de golo clamorosas em 10 minutos, até terem dado o cheque-mate no jogo. Tudo gerido com uma maioridade desarmante, que deve envergonhar um Brasil de gala, que, no fundo, nunca foi mais do que um conjunto de miúdos, incapaz de se comportar como um vencedor.

Este projecto de Mano Menezes para o grande objectivo de uma era - a mítica Copa do Mundo, que se joga daqui a dois anos - oscila entre o melhor e o pior. Para mim, é sensacional que a Selecção principal da Canarinha se dê ao luxo absoluto de ter, hoje, 15 ou 16 jogadores com menos de 23 anos. É uma vitalidade sem paralelo em mais sítio nenhum do mundo, fruto de uma geração fantástica, que não me lembro nem do próprio Brasil ter, tão massiva e organicamente, de uma vez. Entre o Santos campeão americano, o Brasil campeão do mundo de sub20, e a pujança do próprio Brasileirão, fruto do crescimento económico do país, esta equipa é uma amálgama de certezas, todos a crescerem e a virem para a Europa ao mesmo tempo.

O talento transborda, o futebol flui em campo, e as possibilidades são totais, mas se Mano tem o mérito de ter congregado e investido desde a primeira hora neste conjunto tão jovem, continua sem dotá-lo das vitórias. Também na Copa América do ano passado o Brasil foi a melhor equipa da prova; então, como agora, não sobra nenhum título para contar a história.

Assim, a maldição da Canarinha nos Jogos continua. Pela terceira vez perdeu uma final, e o ouro olímpico continuará a ser o unicórnio do super-Brasil, o único grande título que a melhor Selecção de sempre nunca conseguiu ganhar. Desta vez, contudo, era tangível demais para maldições, e já não haverá nenhum brasileiro que não seja assombrado pela ideia da reedição do Maracanazo na final do Rio, 64 anos depois.

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