quarta-feira, 15 de agosto de 2012

Fome de bola


Liga a dois. Não que Braga e Sporting não possam correr, mas, no fim, só muito dificilmente a decisão não será entre a dupla do costume, muito mais fartos em meios, em estatuto, e com um passado recente muito pesado para ser ignorado. Entre Porto e Benfica, os favoritos são os campeões em título. Claro que a equação pode mudar se saírem Hulk e Moutinho, mas o Porto tem todas as cartas na mão. Se no ano passado, com todas as suas insuficiências, e com toda a pressão, Vítor Pereira conseguiu cumprir, desta vez o Porto joga de cima desde a primeira hora, e é o rival quem tem tudo a perder. Além disso, o plantel é mais equilibrado do que no ano passado.

O Benfica gastou mais, ainda não perdeu ninguém, mas a gestão de recursos de Jesus continua a ser pavorosa. Basta puxar, por exemplo, a questão dos extremos: com 4 de nível europeu, o clube deu-se ao absurdo de gastar 22M€ em mais 2. Isso mais os reforços non sense cá de dentro, que nunca calçariam, ou começar a época com 9 avançados... quando só joga 1. Ao Benfica continua a faltar método, rigor e humildade, em benefício da ostentação, e isso só pode prejudicar a equipa, ainda por cima num ano que aconselhava a alguma introspecção, uma vez que a cobrança estará, e legitimamente, no limite extremo do suportável.

O Braga é um pouco imprevisível. A lógica aponta para a manutenção do nível dos últimos anos, mantendo-se escrupulosamente a equipa do ano passado, bem reforçada, e a liderança imponente de António Salvador. O banco é, porém, o factor que baralha as contas. Peseiro é um grande treinador em muitas vertentes do jogo, é renomado, mas toda a gente sabe que tem a carreira manchada por um derrotismo crónico. Se estiver à altura, então o Braga jogará naturalmente pela Champions; o problema é que não estar é uma hipótese mais razoável do que seria suposto.

O Sporting viverá a sua situação impossível de sempre. Não tem o dinheiro dos rivais históricos nem a competência do mais novo, mas ser-lhe-á exigido que bata o segundo, e incomode os primeiros, O plantel é muito interessante, jovem, até bem reforçado, mas o onze não é levado a sério (para o que não contribuem saídas aberrantes de titulares a preço de tostões). Sá Pinto merece o benefício da dúvida, mas tem quase tudo a provar, e usufruindo da mesma estabilidade estrutural de um castelo de cartas, a sua missão é mais difícil no Sporting do que em qualquer outro sítio.

Na habitual zona europeia, o plantel mais forte é o do Nacional. A equipa fez um último terço de campeonato brilhante, uma boa pré-época, e mantém o treinador e quase todos, sobretudo a versatilidade do ataque. Perdeu a dupla de centrais, mas vai entrar certamente forte. O Marítimo continuará a ser uma aposta segura. Saíram 4 jogadores importantes, e ainda podem sair mais 2, o que baralha um pouco as contas, mas Pedro Martins dá garantias no início do seu terceiro ano, o grosso da equipa continua, e os reforços foram bons. O Guimarães é a maior incógnita da época. Em virtude do apocalipse financeiro em que o clube mergulhou, abandonaram o plantel quase duas mãos cheias dos seus jogadores mais caros. As entradas, por sua vez, foram absolutamente parcas. O onze titular continua a ser de valor, mas não há rede, e mudanças tão profundas costumam doer. A apostar, contudo, diria que os homens de Rui Vitória vão bater as circunstâncias, e assumir-se como uma das boas notícias da época.

A espreitar da segunda metade da tabela, sobressai a Académica. O plantel implodiu, mas a Briosa pegou forte no mercado, e reforçou-se a condizer com o estatuto europeu. Um plantel novo em folha é sempre um risco, mas o seu é necessariamente dos mais promissores da Liga. Depois, a Olhanense (se vingar a acalmia entre Sérgio Conceição e o presidente) e o Gil, na linha do que já fizeram no ano passado. Ambos viram os ataques trucidados, mas têm plantéis fiáveis, com, pelo menos, dois bons reforços cada, e são muito bem treinados. O Setúbal deverá conseguir sobreviver entre mundos. Não é uma certeza, porque atravessa uma renovação geracional importante, mas soube estar no mercado e, acima de tudo, conta com José Mota no banco.

No oposto, emerge o Moreirense, e de forma previsível, como o plantel mais pobre da prova, e como principal candidato à descida. O Estoril passará dificuldades, mas reforçou-se surpreendentemente bem para as suas condições. De quem segue na Liga, o Rio Ave, o Paços e o Beira-mar deverão completar o leque que decidirá a descida: perderam os melhores jogadores, e não se conseguiram compensar. O Beira-mar terá o pior plantel dos três, mas os vila-condenses e os pacenses têm o ónus de estrear um treinador, os primeiros, no caso de Nuno Espírito Santo, em absoluto.

Está quase.

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