terça-feira, 31 de julho de 2012

A lenda


Para mim, o momento do dia não foi ter chegado à enormidade inconcebível que é ser o melhor atleta da História dos Jogos Olímpicos.

Foi a dignidade extrema com que reagiu à "derrota" desta tarde, a prata nos 200m mariposa, uma categoria que tinha mais do que reservada. Perdeu por 5 centésimos de segundo e, à 3ª prova, continuava sem ganhar o ouro, falhando o recorde das três vitórias seguidas na disciplina. Era ele o gigante caído dos Jogos e, mesmo assim, foi ímpar a grandeza com que se comportou no pódio.

Se calhar, Londres 2012 lembrará Phelps pelas medalhas que perdeu. Eu contarei aos meus netos que o maior de sempre soube sê-lo em todas as horas.

"You ever have that feeling where you're not sure if you're awake or still dreaming?"


The Matrix é uma daquelas monumentalidades que temos a sorte de ver de muito em muito tempo.

Os irmãos Wachowski, os génios que escreveram depois o meu muito adorado V for Vendetta, deram-se a conhecer, em 1999, com a obra-prima de uma vida. Uma realização que é um abuso e um texto que roça a perfeição, no desenho da história, na filosofia do argumento, na visceralidade da acção e na densidade das personagens.

The Matrix é um verdadeiro e obrigatório banho cinematográfico.

sábado, 28 de julho de 2012

O último romântico


Ele é uma das razões por que aprendi a gostar tanto do ciclismo.

Sempre houve super-homens como Armstrong ou Contador, que idolatramos porque é assim que tem de ser, mas Vinokourov era outra coisa. A alegria de correr, o mais combativo e o mais atacante onde quer que estivesse, alheio à táctica, ao resultadismo e à disciplina e, por isso, quase sempre à parte das grandes vitórias. Vino sempre foi o ciclismo em estado puro.

Lembro-me de ser miúdo e dalguns dos meus primeiros grandes momentos de Tour serem ele, naquelas tardes tórridas de Julho, a subir sozinho as infindáveis montanhas francesas. Deixava-me esmagado. Ele não ia para ganhar, porque tipos como ele, com o coração e o gozo que ele sempre teve, não podiam ganhar. Vino sabia disso e abdicava disso. Ia pelo espectáculo, pela rua e pelas pessoas, ia sempre para ser o espírito daquilo. O tipo saído lá do Cazaquistão ou do fim do mundo, meio estranho e quase esquálido, a suar em bica sozinho, sem equipa e sem chances de acabar em primeiro, mas feliz da vida com o caos que causava, com a forma como chicoteava a corrida e torturava os favoritos uma e outra vez. Toda a gente sabia que não seria ele a subir de amarelo nos Campos Elísios, mas, até lá, Vino podia vencer qualquer um em qualquer dia.

Era como aqueles heróis dos filmes que lutam batalhas impossíveis, batalhas que não podem ganhar, sabem eles e sabemos nós, mas que adoramos mais do que os outros, pela paixão de as lutarem mesmo assim. Sempre o idolatrei e, sinceramente, não me lembro de mais nenhum tão espectacular como ele. Não falo de talento, de rendimento, de cultura ganhadora; falo exactamente de espectáculo, de coração, e de fazer as coisas pelo mais puro gosto, mesmo que isso não leve a vitória nenhuma.

Hoje, levou. A um mês de fazer 39 anos, e com o final da carreira anunciado, a providência resolveu ser justa para com tamanha altivez competitiva. Os últimos anos não foram fáceis, com o ocaso a chegar-se à idade, mas ter voltado a ver o velho Vino a responder a todos os ataques, a ironizar com todas as probabilidades, foi tão impagável como no primeiro dia. Há anos que os britânicos preparavam esta medalha de ouro para Cavendish, que não é menos do que lhe chamam - o melhor sprinter de todos os tempos -, mas era tudo tão perfeito que tinha de correr mal, e ninguém melhor do que o Joker para roubar a festa. Só mesmo ele para sacar assim uma coisa destas. Esta vitória é de uma beleza inenarrável. Por toda esta teia de finas impossibilidades, e, sobretudo, pela maior de todas, pelo ouro olímpico ser a antítese de Vinokourov. Não é suposto que sejam tipos como ele a ganhar.

Durante tantos anos, Vino correu contra toda a gente. Não podia ir embora sem correr contra o próprio destino. Mais ninguém merecia tanto sair assim.

segunda-feira, 23 de julho de 2012

Vontade de chorar


Disse o Daniel Alves: "Se não criarem uma segunda Bola de Ouro para outros jogadores disputarem, acabou-se a história. Penso que Messi está acima de qualquer jogador."

Titula A BOLA: "Daniel Alves defende segunda Bola de Ouro para outros que não Messi"

:')

"I need you to jump off a cliff"


 - Do you remember what you told me when you offered me the job?
- "I need you to jump off a cliff."
- And i did. And i'd do it again. 

quinta-feira, 12 de julho de 2012

O lugar onde fomos felizes

Há coisas que fazemos só porque sentimos que estão certas. Não têm de ser racionais, muito ponderadas, mais ou menos lógicas, são, pura e simplesmente, naturais, mesmo que nunca as consigamos explicar. Até hoje, nunca dei uma boa justificação para ter vindo estudar para o Porto. A tropa do meu pai, o ser mais calmo, o ser acolhedor tem tudo o que se lhe diga, não são justificação nenhuma. Nunca vi sequer o plano curricular do meu curso, nada. Eu não tinha raiz nenhuma cá, podia ter ido para onde quisesse, e quase todos os que, como eu, tiveram de sair de casa para ir para a universidade, escolheram a capital. Mais prestigiada, maior, a capital. Não havia nenhuma razão suficientemente boa para eu ter vindo para o Porto, nenhuma suficientemente lógica para não ter ido para a Nova. Vim para o Porto. Não sei porquê, só sei que já sabia.

É curioso que a decisão com mais impacto no meu início de vida adulta tenha sido tão aleatória e, ao mesmo tempo, tão espectacularmente certa. Às vezes gostava de agradecer a alguém por ter jogado os dados e me mandado para cá. Eu não devia estar cá, não era suposto, mas alguém sabia melhor. Alguém encaminhou-me para os melhores anos da minha vida.

Vou ter tantas saudades do Porto que me dá vontade de chorar. O meu Porto. O Porto que me recebeu como se recebem os filhos, o Porto que foi tão melhor para mim do que eu alguma vez poderei explicar, o Porto que eu tenho debaixo da minha pele e que vai ser sempre a minha segunda casa, mesmo que eu vá conhecer os sonhos de lugares do mundo todo. Toda a gente que saiu de casa e que teve o privilégio de conseguir viver a Universidade sentirá que o seu novo lugar era especial. Eu gostava que tivessem vindo viver o Porto para perceber o que eu estou a dizer.

O Porto pachorrento, bonacheirão, frio, triste, acinzentando, mas que nunca te estranha. O Porto velho, patriarca, ancião, que cuida de ti, que te engana as saudades e que te garante que não haveria sítio nenhum em que estarias melhor a milhares de quilómetros de casa. Ver da varanda a Boavista deserta num domingo ao fim de tarde, e te sentires tão bem no teu canto. A nobreza de Cedofeita, com as dezenas de desconhecidos que se conheceram, o caseirismo, do talho ao supermercado e à tabacaria, em milhares de idas e vindas que foram as pequenas coisas da vida que se fez. Correr isto tudo, da República ao Palácio, ir descobrir a Baixa, em cada recanto um amigo, em cada bar e restaurante e viela e calçada horas de vida ganhas, dias e noites que nunca se vão esquecer. Aquele sentimento de pertença que não é explicável, seres disto, seres o Porto, teres todos os dias aquela sensação de teres feito a coisa certa, de estares no sítio certo.

O Calica, por deus. Qual confeitaria, o Calica tem vida própria, respirou e viveu comigo como os meus melhores amigos. Nem consigo conceber quantas horas passei no Calica, tantas que davam créditos para mais uma licenciatura. Que ícone, que fica no meu legado por lá ter convertido todos os que não o conheciam. E um abraço do fundo do coração ao Sr. Mário, mesmo que ele nunca vá ler isto. Não saberá ele, mas ele é o Porto. A química, a simbiose, o acolhimento, as coisas de pai. Tão competente que podia ter sido qualquer coisa. Sorte egoísta a minha ter ido trabalhar no Calica.

As Águas Férreas. Nunca ninguém conseguirá explicar como é que um apartamento tão velho, quase decrépito, sempre sujo, pôde saber tanto a casa. Nunca conseguirei exprimir por palavras o que lá cresci. A "minha" primeira casa, onde entrei com 18 anos feitos há um mês, uma verdadeira incubadora que me fez tão adulto quanto posso dizer que sou hoje. Uma casa que tive o inenarrável privilégio de partilhar com amor e com irmandade, com pessoas extraordinariamente importantes da minha vida, que foram a minha base e o meu sustento todos os dias em que estiveram comigo, e com quem voltava a fazer tudo outra vez, sem pensar um segundo que fosse. Uma casa em que tive a honra de receber toda a minha gente, todos quantos viveram isto comigo tanto quanto se poderia ter vivido, pessoas que serão minhas todos os dias da minha vida. Gosto tanto de vocês, caralho. Nunca vos poderei pagar o que foram para mim, que é muito mais do que podem imaginar. Foram vocês que fizeram isto tão grande, vocês, mais meus irmãos do que os irmãos que eu nunca tive. Se calhar não sabem, mas vocês foram a minha casa.

Vou amar o Porto todos os dias da minha vida, mas agora é hora de voltar ao meu lugar, porque é isso que quero, que sempre quis, e porque o meu Porto de estudante valeu tanto a pena mas acabou, como tinha de acabar, porque não se pode viver assim para sempre. Este Porto estará sempre no meu coração, mas não voltará a existir, e agora tenho de seguir em frente. Agora é tempo de fazer-me à vida, e tentar devolver-lhe modestamente toda a imensidão do que ela me deu nestes anos.

Nunca me esquecerei do Porto, e sei que o Porto se há de lembrar de mim. É mais do que eu poderia pedir.

Obrigado por tudo.

terça-feira, 3 de julho de 2012

O nosso Euro, individual


Para o bem e para o mal, esta foi uma selecção "Scolarizada". Podem ter havido casos, uma relação difícil com as críticas (que, de resto, foram comuns em Queiróz, mas sem a parte boa), mas Paulo Bento reerigiu o grupo dos velhos tempos, com competitividade, disciplina, nervos de aço, mas uma imensa alegria de estar, uma saúde, uma vontade e uma solidariedade gigantes. Paulo Bento ressuscitou-nos, essa é a verdade, foi o homem perfeito para o lugar, e será, com todas as expectativas, e com todo o mérito, o homem do leme para 2014.

O melhor jogador português na Polónia e na Ucrânia foi Pepe. Foi-o desde o primeiro minuto do jogo com a Alemanha até ao penalty que marcou à Espanha. Mais de 500 minutos de uma imponência avassaladora própria de quem, aos 29 anos, é indiscutivelmente um dos 2 ou 3 melhores centrais do Mundo. Pode não ter o glamour espanhol, pode não ter imprensa nem boa parte da opinião pública, mas Pepe não é menos do que isso. Tem físico, tem técnica, tem carisma e chegou, finalmente, à maturidade que potencia tudo o resto. No Euro-2012, Pepe foi o mais próximo que me lembro de um jogador insuperável.

Ronaldo foi o mais espectacular, a posse de génio sem a qual não teria sido possível andar nestas cavalarias. Não fez um torneio para MVP do Euro, mas fez dois jogos próprios de um Melhor do Mundo, arrastou o underdog até às nossas proféticas meias-finais, e ainda acabou melhor marcador. Se calhar não foi glorificante, mas foi um Europeu altíssimo e crucial para Ronaldo. Provou-se na Selecção, provou-se para a Bola de Ouro, que, em consciência, tem de ganhar, e está mais perto do que alguma vez teve da unanimidade no país. A Selecção não é Ronaldo, mas sem o génio de Ronaldo este Euro não teria sido possível.

Moutinho foi o mais regular, a pedra angular. Grande caminho percorreu o nosso Pequeno Genial desde a ausência na convocatória para a África do Sul, até à titularidade absoluta no Euro. Moutinho até começou envergonhado, num meio-campo que não teve um início fácil, mas superou-se em cada jogo. Desde a Holanda, então, foi monumental, e só muito injustamente falha a equipa do torneio. Talvez não tenha a magia de Rui Costa, ou a criatividade de Deco, mas Moutinho é o melhor dos mundos, um jogador que enquadra o talento na fiabilidade, com que se pode sempre contar e que, mais importante, fará sempre a coisa certa. Se pode ser bem feito, seguramente que Moutinho o fará.

Coentrão é jogador de grandes torneios. Depois de uma época pouco feliz em Madrid, voltou a ser um F1 na nossa lateral-esquerda, a tal que, até há um par de anos, era a nossa lacuna histórica. Não foi irrepreensível a defender, mas o seu rasgo e a sua explosão a sair a jogar contagiaram a equipa, uma e outra vez. Quando está motivado, é um lateral possuído, que não limites.

Nani foi maduro. Ficará a imagem de que não cumpriu tudo o que sabemos que pode fazer, sobretudo nas eliminatórias, mas jogou como um senhor na fase de grupos, anulando-se muitas vezes pela equipa, e, mesmo assim, assinando duas assistências. Hoje, é um jogador adulto, que valoriza o que é preciso, e que é um trunfo tanto maior por causa disso. Talvez lhe fizesse bem sair do United.

Finalmente Veloso, uma revelação para mim, pelo que cresceu à pressão. Por mim não teria sido titular, e acho que os dois primeiros jogos foram transtornantes. Depois, contudo, Veloso ganhou confiança, ganhou estaleca, e tornou-se numa pedra de toque. Nunca será um jogador agressivo, ou ágil, mas é inteligente e, com estabilidade, é uma mais-valia na primeira fase de construção, numa equipa que valoriza a bola. Também ganhava em sair do Génova, mas não para a Ucrânia.

Sem demérito para os outros, foram eles os mais do Euro.

O nosso Euro, balanço


Ainda me lembro do golo do Nuno Gomes à Inglaterra, em 2000. Tinha 9 anos, e saí a correr porta fora com o meu vizinho, e fomos festejar até à estrada onde, por alguma convergência do destino, as pessoas acabaram por aparecer, eufóricas e incrédulas. Acho que foi nesse dia que tive a certeza que ia adorar o futebol para sempre. Em 2004, não sei se acreditava mesmo que um guarda-redes mais ou menos normal fosse decidir um desempate nos penalties com uma Inglaterra ainda mais glamourousa, mas o Ricardo tirou as luvas, defendeu o penalty do Vassel, e rematou o seguinte, electrizando o Estádio da Luz, o país e todos os sonhos do mundo que aquela selecção projectava. E, em 2006, raio de equipa da qual ninguém se via livre, fomos obrigados a entrar no jogo com mais cartões da História dos Campeonatos do Mundo, acabámos com 9 jogadores em campo, mas não havia Batalha de Nuremberga que nos deitasse abaixo.

É um privilégio ter crescido com as melhores selecções da História do Futebol Português, e ter formado esta identidade de selecção enquanto formava a minha identidade futebolística. Como dizia o tal artigo da SBN que se tornou viral por estes dias, nós somos uma impossibilidade, uma porra de um país de 10 milhões de habitantes, que anda há mais de uma década a inventar formas de ser uma das 4 ou 5 melhores selecções do mundo. Não faz sentido, nunca podia ter acontecido tantas vezes, mas nós continuamos aí, a abater potências como pardais, a bater as expectativas, e a espantar a Europa. Nunca teve a ver com o nosso tamanho, com as nossas estruturas, com as nossas probabilidades. O nosso novo século foi talento e vontade de superação, e, depois de duas campanhas menos entusiastas, este era o momento de voltar a provar-nos.

É provável que este Portugal não tenha sido o mais espectacular (2000), nem o mais arrepiante (2004), e se calhar faltou-lhe aquele momento sobrenatural de transcendência, mas a cultura de vitória deste grupo é do maior que já fomos. Este Portugal será lembrado pela estoicidade dos campeões. Pelo golo do Varela nos descontos, pelo KO ao vice-campeão do Mundo quando não havia alternativa, pelo golo à República Checa quando o tempo jogava contra nós. Este Portugal será lembrado como a equipa que sabia ganhar, que ia para ganhar. A equipa que teria discutido qualquer jogo com qualquer adversário, a equipa que levou a Selecção de todos os tempos aos penalties com naturalidade, a equipa que teria ganho isto com naturalidade, e que só não ganhou porque não calhou.

Nos dias em que somos um parente pobre do continente, como em tantas outras vezes, eles foram lá mostrar-nos o caminho, mostrar-nos que, às vezes, não há gigante para nós. Obrigado por termos podido vivê-lo outra vez.

Esta equipa atacará agora, orgulhosamente, o apaixonante Mundial em que o futebol regressa a casa, o Mundial em que também nós jogaremos em casa. Esta geração está à altura do romance e do misticismo de um Campeonato do Mundo no Brasil, um torneio cuja mera menção é entusiasmante. E até pode ser que ainda não seja dessa que "a melhor Selecção sem um grande torneio" se redima, mas, como sempre, é melhor pensarem duas vezes antes de apostar contra nós.

Venha o Mundial.

segunda-feira, 2 de julho de 2012

Dark was the night

"Voyager, in case it's ever encountered by extra-terrestrials, is carrying photos of life on Earth, greetings in 55 languages and a collection of music from Gregorian chants to Chuck Berry. Including "Dark Was The Night, Cold Was The Ground" by '20s bluesman Blind Willie Johnson, whose stepmother blinded him when he was seven by throwing lye in is his eyes, after his father had beat her for being with another man. He died, penniless, of pneumonia, after sleeping bundled in wet newspapers in the ruins of his house that burned down. But his music just left the solar system."

EURO'12: Os Ideais


1. Pirlo
2. Iniesta
3. Ronaldo

EQUIPA IDEAL
Casillas; Selassie, Pepe, Bonucci, Alba; Moutinho, Khedira, Pirlo; Iniesta, Silva, Ronaldo.

Buffon, Hart; Hummels, Sérgio Ramos, Coentrão; Gerrard, Modric, Fabregas; Arshavin, Mandzukic, Ibrahimovic, Gómez.

EQUIPA REVELAÇÃO
Andersen, Tyton; Debuchy, Poulsen, Olsson, Stritnic, Perquis, Kjaer; Veloso, Cabaye, Marchisio, Montolivo, Polanski, Denisov; Dzagoev, Pilar, Jiracek, Błaszczykowski, Konoplyanka, Welbeck, Krohn-Deli, Samaras, Lewandowski, Bendtner.

EURO, #17: A equipa que vimos jogar


Espanha-Itália, 4-0

No Euro-2012, a Espanha só se transcendeu num jogo. Como acontece com os maiores, porém, esse jogo foi a final.

A exibição da Roja foi impressionante. Não pelo estilo, nem sequer pela extraordinária superioridade, mas pelo facto dos homens de Del Bosque, quando tinham tudo a perder, quando eram acusados de ser aborrecidos, e de estarem em sub-rendimento e em fim de ciclo, não terem duvidado, nem por um segundo, das suas possibilidades, e de terem ousado surpreender. A Espanha não quis ser só a Espanha de sempre. Leu o jogo, quis arriscar, e saiu da sua zona de conforto, dando vertigem à partida, e espaço ao último terço da Itália. O objectivo era que os homens de Prandelli se desposicionassem, pela ilusão de que podiam fazer mais, e a estratégia de Del Bosque foi brilhante: insinuando permeabilidade atrás, fez a Itália perseguir o fruto proibido; a equipa de Prandelli queria tanto atacar que não percebeu a armadilha, e correu para o abismo; com espaço para jogar, o cheque-mate espanhol passou a ser, então, uma questão de tempo.

A Itália sucumbiu à estratégia espanhola, e sucumbiu às circunstâncias. À entrada para a final, havia uma quase unanimidade em relação aos homens de Prandelli. A bola estava do lado da Espanha, como sempre, mas cria-se, realmente, que este era o Europeu da Azzurra. Não é que a Itália tenha menosprezado a Espanha, mas entrou muito menos avisada e muito mais iludida do que teria de ser, perante um adversário que é um ancião destas coisas. Os espanhóis foram incrivelmente maduros, confiaram inabalavelmente no que podiam fazer, e desenharam, à regra e ao esquadro, o rumo do jogo. A Itália não percebeu logo e, mesmo depois de ter percebido, não deixou de ser uma equipa pura, uma equipa que achou que o jogo positivo podia, por si só, derrubar o toque, a experiência e a estratégia espanholas. Não podia. A Espanha é gigante, monopoliza as leis do jogo, e elimina a margem de erro, e não pode ser batida sem disciplina, sem sacrifício, sem auto-censura donde até se pode ir, em suma, não pode ser batida no jogo pelo jogo. Esta final era tudo menos aleatória, e foi demasiada para uma Itália tão jovial e imprudente.

1 de Julho de 2012 passa a ser o dia em que a Espanha se chancelou como a melhor Selecção da História do Jogo. O gosto pelo estilo será discutido para sempre, mas o estatuto já não é subjectivo; a Espanha é bicampeã europeia e campeã do Mundo, e é a primeira selecção da História a ganhar três grandes torneios seguidos. Não fui hoje por eles, como nunca fui, e como não serei no Brasil, quando a Armada for tentar engrandecer ainda mais o mito. Independentemente disso, não há discussão: esta Espanha selou hoje o lugar que já todos suspeitávamos ser seu, e é a Selecção que diremos aos nossos netos ter visto jogar.

Espanha - A grande Espanha apareceu porque apareceu o maior dos seus profetas: Xavi não fez um torneio como noutros tempos, mas fez uma final que quase valeu pelo resto. 2 assistências, e uma centelha permanente a brilhar, um entusiasmo próprio de quem se engalanou para isto, de quem estava ali a assumir finalmente o palco, a responder pleno ao teste dos testes. Xavi foi monumental, e hoje não poderia ter sido de outra maneira.

Silva e Fabregas, mesmo sem o simbolismo nem os minutos de Xavi e Iniesta, foram os mais rentáveis jogadores espanhóis no Euro. Silva acrescentou golos às toneladas de futebol que joga por natureza, Fabregas estranhou-se naquela barcelonização do ataque, mas provou ser um ás de trunfo para a produção da equipa.

Num onze que poucas chances tem de sofrer golos, Casillas é a razão porque nem os poucos entram. É um capitão-rochedo, o guardião-modelo para qualquer equipa grande. Sérgio Ramos herdou o lugar e a imponência de Puyol, e fez, se calhar de forma surpreendente, um belíssimo Europeu. A grande revelação foi, por sua vez, Jordi Alba, uma canhota que parece ter sido feita a pedido para esta Selecção: agressivo, inteligente, e de classe no pé a descer o flanco esquerdo. Na próxima época, na Catalunha, só poderá continuar a crescer.

Itália - Jogo ingrato para o histórico e para o talento da equipa. O 4-0 fará esquecer algumas coisas, mas não desfaz nada do que ela representou: a Azzurra foi a melhor Selecção do Euro, e Pirlo foi o melhor jogador, mesmo que hoje a Espanha tenha sido grande demais para qualquer um deles.

domingo, 1 de julho de 2012

"A partir de amanhã já não serei jogador da Juventus, mas serei sempre um de vós"


O adeus sentido de outro eterno.

Cry not for Portugal

"In the last 12 years, Portugal has done the seemingly impossible. It has become a legitimate world power in a small country with a small population and without a national league that ranks among the world's best. That it is where it is now, an undoubted top 10 team in the world that tournament after tournament is considered a lock to outperform countries with three, four and fives times its resources, is remarkable."
Artigo imperdível da rede desportiva americana SB Nation