sexta-feira, 22 de junho de 2012

O nosso Euro #4: Sempre chegamos ao sítio aonde nos esperam


Meias 2000, final 2004, meias 2006, pelo menos meias 2012. Nos últimos 12 anos, só a Alemanha fez tanto como esta nesga de terra debruada de mar. Podemos ser pequenos, e pobres e pouco importantes em quase tudo, mas, dentro do campo, somos tão bons como os maiores. Chamem-lhe ópio das massas, mas aqui jogamos, aqui somos tidos e achados, aqui quase todos gostavam de ser como nós. Aqui, vamos dormir à noite com o brilho dos campeões. O nosso futebol não é estupidificação; é o nosso maior motivo de orgulho internacional, é o nosso maior exemplo. Viver este sucesso é a única forma de estar à altura do que esta equipa representa: que devemos parar de ter pena de nós próprios, e, simplesmente, irmos ser melhor do que as expectativas.

Fizemos mais um grande jogo, o jogo que se nos exigia, quando éramos nós quem tinha tudo a perder. Desta vez, até passámos impávidos à crueza da ampulheta, e selámos a coisa nos últimos dez minutos, a fase mais sensível do jogo, e onde tradicionalmente não temos a frieza que se quer. Não foi mais espectacular do que contra a Holanda mas, colectivamente, foi o nosso melhor jogo. A República Checa não foi nenhum adversário banal. É uma equipa pragmática, que soube sempre estar em campo, e que jogou tão bem como podia com as armas que tinha. Como avisou Paulo Bento, perdermos um fio de humildade que fosse, teria custado caro. Mas não perdemos, de facto. Sujeitámo-nos a jogar feio quando foi preciso, a ter paciência, a nunca ferver em pouca água, e a fechar com critério as asas donde poderia vir todo o perigo checo.

Fomos sempre maduros, até a soltar o talento. E, mesmo sem jogar em vertigem ofensiva, rematámos 20 vezes, duas no malfadado poste que nos persegue, e merecemos cada grão de ser felizes.

Dito de uma forma simples, acho que Ronaldo ganhou hoje a sua Bola de Ouro. Nos dois jogos em que jogávamos tudo, em que sonhávamos tudo, ele foi tudo o que podia ser. 3 golos, já o melhor marcador, umas impensáveis 4 bolas no poste, e uma verdadeira cavalgada por entre holandeses e checos, finalmente possuído, a ser maior do que eles todos. Desprezar Ronaldo é passatempo nacional, houve dúvidas e a Dinamarca pôs tudo em causa. Hoje, contudo, não há ninguém que possa dizer que estes 10 milhões da periferia da Europa estariam nas meias-finais se não fosse ele. Não há mais nada a provar.

Para nós, isto começa agora. Não era lógico que estivéssemos nos quatro melhores do continente, mas era isso que exigíamos, e mesmo que não faça sentido, este é o nosso lugar. Agora, o Campeão do Mundo ou a nossa besta negra terão de vir descobrir por eles próprios se são bons o suficiente.

Equipa - Coentrão e Moutinho assinaram de cruz a entrada para a equipa do Euro. Coentrão confiante é um lateral do outro mundo, capaz de tudo, e tudo inclui fintar um flanco de jogadores adversários. É o melhor lateral da competição e, a este nível, é melhor do que Marcelo. Moutinho já fez dele aquele meio-campo. Na segunda-parte deram-lhe mais uns palmos, e o nosso Pequeno Genial escreveu um tratado sobre como deveria ir jogar para a melhor liga do mundo. Que inteligência, que classe, que fiabilidade. Herda, com toda a altivez, a camisola de Deco e Rui Costa.

Veloso e, sobretudo, Meireles fizeram o seu melhor jogo na competição até agora. Foi preciso muita maturidade para segurar o jogo como segurámos, e ambos apareceram. Meireles até andou a abrir avenidas para Ronaldo e Nani. Como já escrevi, foi, acima de tudo, o nosso jogo mais completo como equipa. Nani não foi explosivo, mas foi muito inteligente, Pepe continua a ser aquilo tudo, João Pereira e Bruno Alves continuam a não comprometer. Custódio entrou bem, e até Hugo Almeida teve uma estreia feliz, e provou ser opção para o que falta.

Sonhemos.

Sem comentários: