domingo, 17 de junho de 2012

O nosso Euro #3: As saudades que eu já tinha


Sim, fomos aquilo tudo.

Jogámos, quisemos, corremos, marcámos, fomos futebol da cabeça aos pés, fomos a equipa de 2000 e de 2004 e de 2006 outra vez, e cavalgámos a Holanda e achincalhámos um grupo da morte outra vez. É isso que nós fazemos. Não somos só bons; temos talento e alma para sermos o que quisermos, e hoje, como no rastro desta década magnífica, quisemos ser muito melhores do que isso. O mostrengo até nos tentou, naquele pontapé fulminante de Van der Vaart, mas o homem do leme sabia que hoje era mais do que ele, hoje éramos todos, e só não marcou três vezes porque o poste quis fazer parte da festa.

Este jogo entra directamente para a galeria de ouro. Voltámos a ganhar a um grande 6 anos depois, passámos um grupo da morte, como sempre, brilhámos, enchemos o campo, e entusiasmá-mos tudo em que tocámos. Conseguimos, outra vez. Este é o meu Portugal, o Portugal com o qual cresci: uma equipa vertiginosa, alegre e corajosa, capaz de nos fazer acreditar que podemos realmente ganhar qualquer jogo. Sermos completos do capitão ao 23º, apitarem o fim do jogo, e sentirmo-nos os melhores do mundo. Tão bem que sabe, tão bom voltar a ser assim.

Sim, Ronaldo foi aquilo tudo.

Não porque hoje correu bem, mas porque responder assim está-lhe no sangue. Até podem haver jogos em que nos falhe, mas, como qualquer gigante, saber que ele está lá faz toda a diferença. Hoje foi o dia em que o Ferrari saiu finalmente da garagem, logo para ir atropelar o vice-campeão do mundo, um dream team de 6 avançados a quem ele roubou toda a luz, com duas no saco, duas no poste, duas em Stekelenburg, e outra com açúcar para Nani. O primeiro português a marcar em 5 fases finais, o 5º europeu da História a fazê-lo. Este é Ronaldo: não o que é maior do que os outros todos, mas o que, por estar lá, faz com que valha sempre a pena acreditar, mesmo que sejamos pequenos, e que isto não seja o Real. Este é o Ronaldo melhor do mundo.

Não fomos campeões hoje, é verdade, mas ganhámos uma equipa. É quanto baste. Agora, como diria Torres, deixem-nos sonhar.

Equipa - O 2º golo é como um espelho do diamante que segura o onze. Recuperou Pepe, isolou Moutinho, assistiu Nani, marcou Ronaldo. Jogaram os 4 a um nível estratosférico. Nani, mais um jogaço, mais uma assistência, todo o perfume de um dos melhores extremos do mundo. Como é bom tê-lo a corresponder ao estatuto, tê-los todos de uma vez. Que pena aquele golo falhado. Moutinho confirmou hoje o Europeu brilhante que está a fazer. Começou preso, mas à medida que a Holanda se descuidou, abriu um livro digno de um pequeno Deco. Magnífico. Do colosso chamado Pepe, terei de escrever aqui todos os jogos que é o melhor central do Europeu.

Ao núcleo, juntar hoje um elogio improvável: João Pereira foi o nosso Coentrão. Que grande jogo, agressivo atrás, a alimentar o ataque de forma constante e, como corolário, obviamente, aquela bola à Zidane para o 1-0. Muito bom.

É uma vitória especial para Paulo Bento também: para mim, e para muitos outros, não mudar a equipa era um problema; o onze, porém, foi o mesmo pela terceira vez, e ganhou ele a aposta. Ainda bem. Às vezes não tem a ver com quem joga, mas com o que se joga, e o espírito desta equipa é mesmo um dos seus maiores trunfos.

Venha a República Checa. Temos o fantasma do Poborsky para expurgar.

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