terça-feira, 19 de junho de 2012

EURO, #12: Ibracadabra!


Suécia-França, 2-0

Dito de uma forma simples, é o seguinte: a Suécia foi a melhor equipa do grupo D. Não teve maturidade para segurar vantagens, sucumbiu à pressão, e é por isso que já entrou hoje em campo em último. Mas foi, sem sombra de dúvida, a equipa que jogou melhor futebol, e que o fez mais vezes, e a única que nunca mostrou um vazio de ideias. Nenhum jogo sueco foi tempo perdido.

Hoje, mesmo que já não houvesse nada a ganhar, os suecos vingaram-se finalmente, e saíram pela porta da frente, como mereciam, golpeando na asa a França sobranceira de sempre. E, mais importante, Ibrahimovic teve uma despedida à sua altura, com o golo do torneio. Já o disse aqui uma vez, e repito: numa selecção que é, apesar de tudo, de segunda linha europeia, é impressionante o que Ibra consegue render. É um avançado absolutamente excepcional. Hoje, aliás, a excelente linha avançada sueca voltou a dar cartas, acabando com o 2º ataque da fase de grupos. Larsson (27 anos, Sunderland) e Toivonen (25, PSV) foram outras boas notícias do Europeu.

A França fez a proeza de acabar a fase de grupos sem mostrar nada, a perder a liderança para uma equipa já eliminada, e a despencar aos pés do Campeão do Mundo nos quartos-de-final. Ver jogar os franceses é um exercício de tolerância, tal é a sobranceria bacoca da equipa, o regime de frete, e o ritmo lento. Os franceses não têm desequilíbrio nem criatividade, são pouco agressivos, e limitam-se a passear no campo à espera que um dos seus anéis invente alguma coisa. Só não digo que são favas contadas para a Espanha porque Nasri, Ribéry e Benzema podem inventar alguma coisa a qualquer momento, e porque me habituei a ver a França fazer de tudo, mas, até agora, a equipa de Blanc foi uma das selecções mais sofríveis do torneio. Lloris foi o melhor em campo hoje.


Inglaterra-Ucrânia, 1-0

O grupo D não foi, definitivamente, o mais bem jogado, mas acabou por ser o mais emocionante.

O grande vencedor tem um nome: Roy Hodgson. Desacreditado, e em fim de carreira, pegou numa equipa de miúdos, ceifada por uma Federação estranha e por uma perturbadora onda de lesões, e acaba a ganhar o seu grupo a uma França que tinha os trunfos todos, com a cereja no topo do bolo de despistar a Espanha nos quartos. A Inglaterra não brilhou, e diria mesmo que não foi a melhor equipa em campo em nenhum dos três jogos. Isso só torna, porém, mais notável o trabalho do seleccionador. Os ingleses não esbanjam talento, mas aprenderam a ser uma selecção humilde, esforçada e conscienciosa, que não tem vergonha das suas limitações. Com alguma estrelinha pelo caminho, fez até agora muito mais do que lhe seria de exigir, e dificilmente alguém faria melhor do que Hodgson. Nos quartos, a Itália é favorita, mas menosprezar esta Inglaterra seria um erro grande.

A Ucrânia quis muito seguir em frente, é verdade que teve um golo de Milevsky mal invalidado, mas, apesar de ter rematado muito, de ter subido muito, não teve engenho para fazer a diferença. Faltou frieza e experiência aos homens de Blokhin, sobretudo depois do golo de Rooney. Os ucranianos foram, ainda assim, um concorrente de mérito, que valorizou o espectáculo, e terão sempre aquele jogo inaugural de Sheva para contar.

Inglaterra - Gerrard é um dos jogadores do torneio. Numa Inglaterra diferente, que teve de baixar as expectativas, o lendário capitão do Liverpool é tudo o que a equipa podia pedir. Dá-lhe densidade, nível, agarra-a ao jogo, e, aos 33 anos, ainda vai partir pedra no último terço: 3 jogos, 3 assistências! Magnífico. Numa equipa onde "os miúdos" têm brilhado à vez, hoje foi o dia de Ashley Young: grande carrilhamento de jogo à esquerda. Rooney, claro, pagou o bilhete. E Hart continua a marcar a diferença, jogo após jogo.

Ucrânia - Konoplyanka é o nome a reter. Aos 22 anos, este deve ser o Verão em que abandona a Ucrânia. É o jogador mais talentoso da equipa, o mais entusiasta e o mais desequilibrador, fortíssimo a entrar da esquerda para o meio. O melhor em campo é provável que tenha sido Gusev (29 anos, Dínamo de Kyev) que, adaptado à lateral-direita, incendiou o flanco o jogo todo.

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