sexta-feira, 25 de maio de 2012

Band of Brothers (2001)


"Grandpa, were you a hero in the war? 
No. But I served in a company of heroes"

Não esperava que, ao fim de tanto tempo, ainda pudesse ficar tão esmagado com um retrato da 2ª Guerra Mundial. Certo é que Band of Brothers entra directamente para a lista de absolutos obrigatórios, onde já ponteavam outras obras de arte de Spielberg como A Lista de Schindler ou O Resgate do Soldado Ryan. O maior elogio que posso fazer a Band of Brothers é reconhecer que está à altura dessas.

O retrato da guerra, em si, é avassalador, e é, possivelmente, o mais cru que já vi. Averso aos lirismos que costumam ser tão caros aos contadores destas histórias, agride-nos com uma brutalidade total. Fala da guerra aleatória, perversa, que não poupa ninguém, que não escolhe, que pode sacrificar qualquer um, em qualquer momento, e de qualquer forma. Mostra o sofrimento profundo de homens normais, não heróis, mas homens como qualquer um de nós, o tudo que se dão a perder, e os pequenos nadas a que se podem agarrar para subsistir, quando vêem todos os dias os seus irmãos de armas a morrer sem avisar.

A guerra pode ter razão de ser, pode merecer muita coisa, mas não tem um fio de beleza, e Band of Brothers é puro nesse tormento. A única coisa que se leva da guerra é a camaradagem, os amigos para a vida, porque quem arrisca tanto, quem põe tanto em causa, não tem alternativa a não ser confiar incondicionalmente. Ali, com tudo a perder de uma maneira tão estupidamente fácil, o que sobra é serem todos tão extraordinariamente iguais. Quando não há alternativa a não ser ir ao limite, o único consolo é não ir sozinho. Band of Brothers é o retrato ímpar dessa irmandade feita de sangue.

A mini-série (10 episódios) baseia-se num livro de Stephen Ambrose, historiador e biógrafo de Eisenhower e Nixon, e é inspirada pela história verídica. Aliás, na introdução de cada episódio, falam os próprios veteranos (cuja identidade só é revelada no fim), com cada capítulo a desenvolver a acção do ponto de vista de um personagem.

No centro da acção, que começa no Dia D, está a Companhia Easy, de paraquedistas, um grupo imensamente coeso e bem treinado, que vai cruzar, de forma inapelável, momentos incontornáveis da 2ª Guerra, como Carentan, Eindhoven, Bastogne, ou Foy. Num trabalho magnífico de realização, vive-se a guerra, autenticamente. Band of Brothers tem as melhores sequências de combate que já vi, o desespero, o frio, o sofrimento, a espera, "nossa" e deles, pequenas vitórias e grandes derrotas, e vice-versa, e a morte, brutal até onde é concebível, ao virar de cada esquina. Tem igualmente episódios, por si só, de outro mundo, como o do cerco a Bastogne, o auge do massacre, ou o do Campo de Concentração de Landsberg, que nos deixa sem reacção, com um verdadeiro nó na garganta, esmagados.

É uma mini-série de personagens fenomenais, ainda que o que sobressaia seja o coração colectivo. A figura central indiscutível é o Major Winters (o fantástico Damien Lewis, de Homeland), um homem inteligente e carismático, que é obrigado pela guerra a tornar-se num verdadeiro líder. Grande performance de Lewis, mais uma, numa assimilação perfeita do homem normal, que se transcende porque é isso que as circunstâncias lhe exigem. O verdadeiro Major Winters faleceu no início de 2011, e foi o último dos comandantes da Easy a morrer.

Há outros nomes de referência, como o irascível Capitão Speirs (Matthew Settle), o pacífico Tenente Lipton (Donnie Wahlberg) ou o confiável Sargento Malarkey (Scott Grimes), mas a série faz valer, acima de tudo, o arrepiante espírito de grupo, que se materializa num conjunto de 15 ou 20 caras todas com história, e que, no fundo, se tornam todas muito próximas e familiares.

Só quando acaba é que percebemos verdadeiramente a consideração e a reverência que ganhámos por aqueles homens. No fim, mesmo na simplicidade da nossa percepção, conseguimos perceber o que aquilo custou, conseguimos imaginar a inimaginável provação a que aquela gente de carne e osso foi sujeita, e compadecemo-nos. Lembramos com nostalgia o seu percurso, e, no episódio final, não há como não nos emocionarmos.

Band of Brothers ganhou, em 2002, o Emmy e o Globo de Ouro para Melhor Mini-série, e ainda o Emmy para melhor cast. Para mim, é uma obra-prima.

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