segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Óscares, 84 - review


Os Óscares cumpriram a fatalidade de serem previsíveis de uma ponta à outra, o que torna tudo um tanto ou quanto melancólico. É inevitável abordá-los com a maior das expectativas, portanto, quando não há fuga ao guião, faltou sempre qualquer coisa. No fim de contas, The Artist monopolizou mesmo a festa, e foi o grande vencedor da noite: Hazanavicius e Dujardin são vitórias perfeitamente adequadas, mas Melhor Filme veio por arrasto, num hábito muito intrínseco da cerimónia: the winner takes it all. The Artist é bom, é oscarizável, é um ganhador honorável, mas rivalizava com 2 ou 3 filmes claramente melhores.


Curiosamente, a maior surpresa da noite foi a vitória de Meryl Streep: quase toda a gente é capaz de imaginá-la como vencedora crónica, mas a verdade é que a Academia a tinha na prateleira há, imagine-se, 30 anos!, desde 1983, pese o recorde de 17 nomeações. Foi, "apenas", o seu terceiro Óscar, em cuja aceitação Streep não escondeu nem a surpresa, nem uma certa acidez, mas foi uma vitória mais densa do que as restantes, e inteiramente merecida.


Apesar da previsibilidade, foi, no resto, a melhor cerimónia dos últimos anos, e muito superior à do ano passado. Primeiro, pela apresentação: confesso que estava à espera de mais qualquer coisa da parte de Billy Crystal - mais chama, melhor piada -, mas, mesmo assim, deu e sobrou para envergonhar quem lá pôs James Franco no ano passado. Acredito que Crystal não seja para continuar, porque há espaço para a novidade, mas - e na impossibilidade de ter um Gervais, pela própria idiossincrasia dos Óscares -, o formato só pode ser este: glamour e leveza, próprios de um mestre de cerimónias. Quem sabe se Hugh Jackman não regressa (e que deus afaste os Eddy Murphys deste mundo).


Em segundo lugar, foi um ano de grandes momentos em palco, o que não é especialmente comum: belíssimas as subidas de Octavia Spencer (a primeira e mais genuína ovação de pé!) e de Christopher Plummer, mas também a sensibilidade de Streep, a bonacheirice de Dujardin e o sentimento de Asghar Farhadi, o iraniano que venceu Melhor Filme Estrangeiro, sobre a cultura de um povo acima da cortina política.

E, finalmente, o que foi, para mim, o melhor da noite: a realização. Foi, possivelmente, a mais bem conseguida desde que me lembro de ver os Óscares, porque fez a diferença. Os clipes casuais, com personalidades a falar sobre o que o cinema representa para si, e as introduções às categorias, com depoimentos dos nomeados, foram de um bom gosto e de uma envolvência absolutamente extraordinários.

A nível de vitórias pessoais, só não me falhou o mestre Woody Allen, de ontem em diante o senhor supremo dos Argumentos Originais. Não lhe interessará grande coisa, ele que não é homem de Óscares, e que voltou a faltar ontem, mas o que conta é que nunca ninguém tinha ganho três. Pena que Moneyball tenha perdido Argumento Adaptado, mesmo que fique nas boas mãos de Alexander Payne.


Para flashbytes, necessariamente o chavascal de Sacha Baron Cohen na passadeira vermelha e, claro, Angelina: deusa.

Foram os Óscares, um dia quero ser eu. Quem sabe 2013.

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