terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Downton Abbey, season 1


A distingui-la numa palavra, seria sempre requinte. Downton Abbey é a história de uma imponente família nobre da Inglaterra rural do início do século XX, e esbanja classe do contexto ao tratamento de toda a acção. O argumento é um monumento, e dá-nos uma imagem notável do que era o modo de vida, os costumes, os preconceitos, as mentalidades e as novas descobertas desses anos. A devoção pelos detalhes é qualquer coisa de apaixonante, e, em muitos aspectos, Downton Abbey é quase uma lição de História.

Além disso, no sumo propriamente dito, a série evidencia-se por uma característica que distingue as melhores: pegar num contexto normal, sem espectacularidades ou exageros, e tecer um retrato absolutamente brilhante das relações humanas. Fala de legado, no Senhor que precisa de preservar a obra da sua vida e não a pode deixar às próprias filhas, de ter de viver à altura das expectativas, de respeito e reciprocidade entre nobres e servos, e da extrema dignidade de quem serve, da inveja que é transversal, e da maldade que não se pode conter, da perda de quem nos é mais querido, da falta de linearidade das histórias de amor, e da amargura por acções irreflectidas e por oportunidades perdidas. Ainda melhor é a classe pura com que fala de tudo isto, quase sempre de uma forma subtil, em metáforas e pequenas linhas segredadas, numa expressão ou num olhar comprometido.

Hugh Bonneville (Robert Crawley, Lord of Grantham) é um belíssimo lead, um homem profundamente apaixonado pela sua família e pela sua Downton, moderno, justo, averso a questiúnculas e em quem se pode confiar, muito fácil de lidar e profundamente empático. "Conversar" com ele é quase sempre abrir os horizontes. Jim Carter (Mr. Carson) é o imponente mordomo-chefe, a imprescindível força motriz de toda a casa, reverente e austero, mas com um bom coração e um grande sentido de justiça. Brendan Coyle (John Bates) é o escudeiro pessoal de Lord Grantham, um homem que ficou coxo em combate, amargurado, assombrado e sóbrio, mas que é um exemplo de integridade e uma profunda inspiração para quase todos com quem se cruza. Maggie Smith (Condessa-Viúva de Grantham) fecha o leque de melhores actores, na sua condição de matriarca absolutamente cáustica, nobiliárquica imponente e defensora dos velhos costumes. O romance entre Michelle Dockery (Lady Mary Grantham, filha primogénita do Lorde) e Dan Stevens (Matthew Crawley, o parente da cidade e legítimo herdeiro) tem, também, um valor muito próprio.

A primeira temporada (2010, de 7 episódios) acaba na antecâmara da I Guerra Mundial, pelo que melhor aperitivo era impossível para a que se segue, e a season 3 já foi confirmada para Setembro deste ano. É muito difícil não ficar rendido a Downton Abbey.

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