quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Jericho (2006-2008)


O pós-apocalipse é uma cena que me assiste, e a glória total de The Walking Dead incentivou a que, mesmo em altura de paragem de Inverno, mantivesse o ritmo. Vai daí fui ressuscitar um velho conhecido com quem tinha simpatizado por alturas do Secundário, quando veio para o ar em Portugal, na SIC. Jericho é a história de uma pequena cidade americana que subsiste a um ataque nuclear em grande escala aos Estados Unidos, causador do desaparecimento de 23 das maiores cidades do país.

A primeira metade da season 1 (que tem, no total, 22 episódios) condensa tudo o que me tinha cativado de início. Uma comunidade que de repente cai num vazio de Estado, que não faz ideia de nada do que se passa à sua volta, que perde electricidade e praticamente todas as suas formas de subsistência. A sobrevivência apela-nos muito aos instintos e cria-se uma empatia grande com aquilo. Decidir pela comunidade, inventar recursos, organizar-se, garantir a segurança de todos em relação ao que está lá fora, não deixar o poder cair na rua, tomar as decisões difíceis, dar valor a tudo o que temos por adquirido.


O coração da série é a família Green. O pai, Johnston (Gerald McRaney), é o presidente da Câmara há 20 anos; o filho mais novo e exemplar, Eric (Kenneth Mitchell), é o vice-presidente; e o mais velho, Jake (Skeet Ulrich), é o protagonista, um carismático predestinado que abandonara a cidade anos antes por nunca ter estado à altura do legado da família. As questões familiares e ainda o romance de outros tempos (com a belíssima Ashley Scott) levantadas pelo regresso (que era só passageiro) de Jake são também um indiscutível valor acrescentado para a série.

Ainda assim, é ele e a construção da trama à sua volta o calcanhar de Aquiles da série. A acção é heroicizada para lá de todos os limites, e isso tira-lhe muita credibilidade. Jake pode tudo, faz o que mais ninguém faria, sacrifica-se sempre, safa-se sempre. Tem um fulgor muito para além do recomendado, e a série desgasta-se com isso.

O outro protagonista é o misterioso Robert Hawkins (Lennie James, que teve igualmente um papel curto mas intenso na primeira temporada de The Walking Dead!), um forasteiro que se instala na cidade com a família escassos dias antes do ataque, justamente por saber de tudo o que ia acontecer. Hawkins é o exacto oposto de Jake, e também por isso é a personagem mais notável da série. Racional, frio, absolutamente inteligente, nunca é apanhado desprevenido porque nunca se põe a jeito. Está sempre no controlo da situação, é um ícone. Também merece a nota o velho Mayor Green, a "segunda melhor" personagem, todo ele experiência, classe e carisma.

Na segunda parte da primeira temporada perde-se a mão, e a storyline de confronto com uma cidade vizinha é no geral bastante mal conseguida. A série foi mesmo cancelada por baixas audiências, mas após uma mítica campanha de fãs voltou para uma segunda temporada de 7 episódios. Pese a síndroma dos heroísmos adensar-se até um bocado mais, acho que foi bem acabada, conseguindo dar um fim aberto muito meritório às grandes linhas conspiratórias da trama.

Jericho começa muito forte mas desgasta-se com o tempo. Ainda assim não deixa de ser uma série marcante, com predicados muito particulares, e que explora bem o contexto em que se insere. Não é à toa que em 2007 a TV Guide a colocou em 11º na lista de Séries de Culto de todos os tempos. O legado fez com que os criadores lhe dessem sequência numa série de banda desenhada, sendo que a hipótese de um filme nela baseado foi mesmo aventada na Comic-Con deste ano. Quem sabe.

(o genérico de cada episódio é acompanhado por uma mensagem áudio em código morse, com pistas sobre ele)

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