terça-feira, 29 de novembro de 2011

Hiddink e Trapattoni, decadência e intemporalidade


"Giovanni Trapattoni vai renovar o contrato que o liga à selecção irlandesa, nesta semana. O treinador italiano garantiu o apuramento da Irlanda para o Europeu 2012 e agora foi brindado com a prolongação do vínculo até à fase final de qualificação do Mundial 2014, no Brasil."

A decadência é tão amarga na vida como no futebol, com a diferença de que no futebol basta saber sair. O adeus será o momento mais dramático da vida de qualquer protagonista, seja jogador ou treinador. Para os jogadores está mais estilizado, acontece-lhes sempre pela mesma idade; para os treinadores é bem mais difícil, a ausência de uma barreira muda tudo. E é tanto mais irónico porque, ao contrário de um jogador, um treinador pode continuar a ser muito bom sempre. A idade avança, há anos que podem correr mal, mas a carreira de nenhum treinador depende do que as pernas podem correr. Qualquer um pode alimentar a ideia legítima de ainda poder fazer a diferença.

Lembrei-me disto por causa dos play-offs de acesso ao Euro-2012. Das oito selecções, duas lendas emergiam claramente dos bancos: Hiddink e Trapattoni. O tipo de homens que deve inspirar qualquer um em campo só por saber que eles estão lá. Meros 7 anos de diferença, muita coisa ganha entre os dois, mas sortes diferentes desta vez.

Depois das melhores performances da história da Coreia do Sul, da Austrália e da Rússia do pós-União Soviética, Hiddink, o milagreiro das selecções, falhou com a Turquia o apuramento que já falhara com a Rússia há dois anos. Sem aviso prévio, parece ter perdido o mojo algures no caminho, e já se fala numa aventura milionária de pré-reforma no Anzhi. Talvez seja um diagnóstico prematuro, mas Hiddink parece começar a esboçar um adeus às grandes coisas de que fez carreira.

Ao mesmo tempo, e do alto dos seus 72 anos, Trapattoni continua imune ao tempo. A Velha Raposa ganhou o seu primeiro título em 1977, tinha Mourinho 14 anos... E na última década, mesmo na sombra dos grandes palcos, foi campeão em Portugal (interrompendo o hiato benfiquista de 10 anos) e na Áustria. Agora, sem estrelas que se vejam, qualificou a Irlanda para um Europeu 24 anos depois. E é bom lembrar que só não esteve na África do Sul por causa da mão de Henry no Stade de France.

Il Trap é um predestinado, e há qualquer coisa de muito inspirador em vermos uma lenda do jogo parecer intemporal. Melhor é saber que ainda é senhor para ir ao Brasil.

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