quinta-feira, 28 de julho de 2011

Seguro e a história da vida dos jotinhas


"António José Seguro é o novo secretário-geral do Partido Socialista, depois de uma campanha eleitoral interna praticamente invisível para o exterior do partido. A sua vitória era previsível, já que trabalhou para isso nos últimos seis anos, ao contrário do seu adversário, Francisco Assis, um candidato inverosímil que se concentrou, durante esse tempo, em assumir a cara parlamentar do governo socialista. Com esta eleição, os dois maiores partidos são agora dirigidos pelos responsáveis das juventudes partidárias dos anos 90.

Não tem nada de mal, naturalmente. A não ser o facto de, um e outro, terem chegado aqui através de um percurso silencioso feito pela conquista das estruturas partidárias. Nem um nem outro se distinguiram pelas suas qualidades executivas, nem na governação, nem na gestão empresarial. Nem um nem outro se distinguiram por produzirem qualquer pensamento sistematizado, uma ideia inovadora ou uma estratégia política para o futuro. Moldados desde muito jovens na lógica da luta pelo poder que caracteriza os aparelhos partidários, envolveram-se mais na gestão de afectos, na palmadinha nas costas e no telefonema ao camarada, para um, ou ao companheiro, para o outro, em dia de aniversário. O resto foi feito pela habilidade de construir meticulosamente uma imagem politicamente correcta, em função do objectivo a alcançar: ser primeiro-ministro.

Atravessamos um tempo em que ninguém espera reconhecimento pelas suas convicções e pelo seu pensamento político; em que ninguém parte a loiça, no interior dos seus partidos, como Mário Soares ou Sá Carneiro fizeram no passado. Agora espera-se. Espera-se pelo momento oportuno, como quem espera que lhe saia o euromilhões. Mas, sejamos claros: se Pedro Passos Coelho é presidente do PSD e primeiro-ministro, António José Seguro está bem como secretário-geral do PS, líder do maior partido da oposição e, quem sabe, futuro primeiro-ministro."

Tomás Vasques, no Conquilhas


As juventudes partidárias sempre foram um ódio pessoal. Entendo que a política devia ser o espaço de todos quantos se destacam na causa pública, dos que se distinguem na sua área e podem, depois, pôr as suas competências ao serviço da comunidade; ou dos que têm ideias, convicções e, acima de tudo, vontade e capacidade de contribuir, nunca de servir-se. As juventudes são o oposto. São um ninho de vícios onde se inculcam doutrinas partidárias e, sobretudo, onde prolifera o culto cego do chefe e das cores, e isso enjoa-me profundamente. Claro que existirão excepções, mas escasseia-lhes o debate, e quem lá está, está porque isso lhe há de render qualquer coisa mais cedo ou mais tarde. Estar nas juventudes é um desincentivo à reflexão crítica, e isso desvirtua tudo o que a política devia ser.

Hoje dá que pensar o facto de Passos Coelho e Seguro serem os líderes dos dois maiores partidos portugueses. Somos governados por gente que passou a vida só a ser político, seja lá o que isso for, e pior, isso é a coisa mais normal do mundo. Portugal precisa de líderes como de pão para a boca, mas a gente que podia fazer a diferença preferiu fugir à política. Mais do que nunca esta era a altura desses se chegarem à frente; em vez disso temos dois sofríveis, com passado de jotinhas-cães-de-caça, paridos das entranhas escarráveis dos aparelhos partidários.

Dizem que a primeira imagem é a que fica, e a de Seguro foi cristalina. Com o cadáver de Sócrates ainda quente, foi vê-lo em modo barata tonta, em pleno hotel Altis, a dizer que não falava, para depois anunciar que falava e não falar outra vez, enquanto gaguejava e tremelicava, num retrato profundamente penoso e patético. Seguro é anti-carismático, frouxo e discreto, tem um discurso pobre e desinteressante, e é a imagem crua de uma geração que é política de profissão, absolutamente alheia ao conceito de meritocracia.

Mais ou menos previsível, a sua vitória foi uma desilusão. Porque o PS perde tempo - e aposto que Seguro não vai durar até às próximas Legislativas -, e porque não devia ser tão natural ver um mero carreirista chegar à liderança do maior partido de esquerda em Portugal.

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