segunda-feira, 20 de junho de 2011

"Nuno Gomes, o homem que fez jogar um país"


"O ponta de lança de Amarante foi dez vezes mais jogador do que a opinião pública sabe, ou pensa que sabe. Nuno foi o avançado perfeito na selecção portuguesa. Com ele, Luis Figo, João Pinto e Rui Costa brilharam. Com uma compreensão fantástica do que é o jogo, Gomes está na mais encantadora selecção portuguesa a que a memória recente nos permite chegar. E muito do encanto da equipa que disputou o Euro 2000 estava precisamente no seu ponta de lança. A ganhar espaços, a tabelar, e nesse Europeu até a finalizar. Tudo girava em seu torno. À sua volta, os seus colegas pareciam ainda mais galácticos."

roubado ao Lateral Esquerdo

Pauleta é o melhor marcador da história e Postiga sempre teve a estrelinha, mas nenhum era tão jogador como ele. Para a lenda fica esse arrepiante Euro-2000, e o futebol que espantou a Europa. Sou um defensor inequívoco de tudo o que Scolari conseguiu, mas essa performance na Holanda e na Bélgica é o maior legado de sempre de uma Selecção Nacional em tempos modernos. E Nuno Gomes, então com 23 anos, foi uma peça ímpar.

Sempre defendi que o lugar devia ser dele. Pauleta era um gregário, com números extraordinários nas fases de qualificação, e justamente idolatrado de Bordéus a Paris, mas nunca teve dimensão para as grandes competições e, acima de tudo, tamanha compreensão do jogo. Depois do Euro, Nuno Gomes não voltaria a ser dono do lugar. Respondeu como os grandes no Euro-2004, com o golpe de asa à Espanha, e ainda picou o ponto na Alemanha, em 2006, mas desvaneceu.

Ao contrário do que agora pode parecer, nunca foi um bem-amado. Da Selecção ao Benfica, Nuno Gomes roçou sempre uma certa desconsideração, e carregou uma injusta imagem de fardo por não ser um puro matador, apesar de tudo o que conseguiu, em números e golos inclusive. É dessa forma absolutamente imerecida que sairá do seu clube de sempre, pela porta dos fundos.

O Benfica continua sem aprender nada com o maior rival, e continua a ter uma extrema dificuldade em lidar com as suas, poucas, referências. Se fosse benfiquista, ficava envergonhado pela maneira como o clube tratou um jogador como Nuno Gomes.

Nuno foi, como citei, "dez vez mais jogador do que a opinião pública pensa que sabe." Para onde quer que vá, merece um último ano de carreira feliz e, porque não, alimentar o mito que fez soprar este ano. A sua despedida é a saída de cena do melhor ponta-de-lança português da minha geração.

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