domingo, 28 de novembro de 2010

Oportunidades perdidas


Foi uma desilusão. Realizado por quem já fez coisas como Se7en, Fight Club e Benjamin Button, escrito pelo reputado Aaron Sorkin (Os Homens do Presidente), e centrado num tema tão extraordinariamente sumarento, era preciso ter feito muito mais. A sensação que fica é que, se calhar, ainda era cedo para fazer qualquer coisa sobre o Facebook. Com os 500 milhões de utilizadores e Mark Zuckerberg como o bilionário mais novo de sempre, The Social Network acaba por só acompanhar o hype que vive agora a rede, e não traz nada de novo.

Numa palavra, o filme é superficial. Quanto mais exposta é uma estória, mais difícil tende a ser levá-la para o cinema, e aqui o falhanço foi evidente. O filme até arrisca alguma coisa, e imprime, desde o início, uma narrativa um tanto ou quanto dinâmica, que conta, simultaneamente, 3 momentos da vida de Zuckerberg: o cerne é o processo de nascimento do Facebook, e isso vai sendo intercalado com os diferendos judiciais que o protagonista manteve depois, com outros que foram parte integrante nesse processo. O resultado é, contudo, uma grande ligeireza de abordagem, com uma importância imponderada desses "inimigos" que anuncia a tagline, e uma tremenda ausência de criatividade, de surpresa ou até de interesse. Até a nuance romântica, desconsiderada quase todo o tempo, acaba a ser martelada no fim, num cliché doloroso.

A única mais valia do filme é o enquadramento do protagonista. Zuckerberg é mostrado como um "deus", um génio arrogante, mas profundamente corroído por egoísmos e por frustrações pessoais. Jesse Eisenberg era outro dos pontos de interesse do filme, e a sua interpretação pareceu limitada durante boa parte do tempo, mas cresceu no decorrer da acção, e materializou esse desenho que era bom de raiz. No resto, é quase um deserto. As personagens de Armie Hammer são caricaturadas, Andrew Garfield é fraco, e não deram importância suficiente a Rooney Mara. Até Timberlake, que costuma sair-se bem nestas coisas, passou ao lado desta vez.

Até valeu a intenção de não querer tornar a estória num conto de fadas, e de contornar a secura duma biografia com narrativas paralelas. Mas foram boas ideias que se esfumaram numa declarada falta de conteúdo e de criatividade, evidenciadas por um argumento fraco. Infelizmente pareceu só uma encomenda, para fazer render a moda.

Sem comentários: