segunda-feira, 20 de setembro de 2010

A sucessão

Sobre a saída de Queiroz, tenho de insistir que era o desfecho inevitável para um processo absurdo, criado pelas próprias pessoas que lhe assinaram o contrato, também ele absurdo, duns assustadores 4 anos sem rescisão estipulada, coisa a que nem o melhor treinador do mundo tem direito, no almighty Real Madrid. Sobre o arrastar, concebo que Queiroz tenha aguentado a corda até ao despedimento que lhe valerá a choruda indemnização, mas mantenho que nada justifica a humilhação a que o próprio se sujeitou. Alguém com o mínimo de respeito próprio, teria garantido uma rescisão favorável de imediato, só para poder vir expor por si, logo depois, toda a podre estrutura federativa e os caciques terceiro mundistas que ainda a lideram. Queiroz preferiu a humilhação, o que acabou por ser só mais uma pedra no seu caixão. É que, independente à tragicomédia que foi o pós-Mundial, como escrevi no dia em que fomos eliminados pela Espanha, ele era muito menos do que esta Selecção podia e devia ter no banco. E o Portugal desta década não merecia ruir 30 anos no tempo.

A respeito do quase confirmado Paulo Bento, reafirmo o que já deixei por cá há dias: é uma opção de grande valor. Dele não podemos esperar intrincados esquemas tácticos, com médios interiores a fechar, catenaccios, ou estudos intensivos dos adversários, mas teremos certamente garantido o respeito dum balneário no qual ele próprio tem anos, teremos uma abordagem positiva, poucas ou nenhumas invenções no campo, gente moralizada e, sobretudo, o que é de especial valor ao que vem, uma mentalidade competitiva admirável nos jogos a eliminar. Dos outros nomes, o tempo de Humberto Coelho já passou há muito, e a Aragonés sobrarão certamente os netos.

Por último, o episódio Mourinho: acabou por chocar-me mais a reacção do próprio, ontem, em San Sebastián, do que tudo o resto. Por mais que goste dele, e o reconheça como inequívoco número 1, Mourinho devia saber que a Selecção não é o seu playground, e que uma Federação do top 10 FIFA não deve andar a brincar aos treinadores, só porque ele até nem tem jogadores para treinar nessa semana. No resto, foi só Madaíl a bater os seus próprios limites, e a cometer a proeza de não só se ridicularizar pessoalmente, como de ainda humilhar internacionalmente a Federação e o País que representa, naquela visita a Madrid saída das profundezas do absurdo. Depois de 3 meses a lavar roupa suja na praça pública, assumindo-se, acima de qualquer dúvida, como o dirigente escarrável que é, a única coisa misericordiosamente evitável era ter ido mendigar por 180 minutos da atenção do melhor treinador do mundo, como se só ele pudesse consumar o milagre de ganhar a uma Dinamarca e a uma Islândia com um valor individual a 30 universos de distância do nosso.

Num país que não é civilizado o suficiente para já se ter livrado de gente desta, ao menos que cheguem rápido os dias em que Madaíl não tem de fazer, falar ou aparecer para nada. Será o mais próximo que teremos de dignidade, na nossa casa dos horrores.

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