sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Ensaio sobre a Cegueira

"Os velhos do Restelo devem guardar o veneno para outras núpcias. Aqui, hoje, agora, temos de ser claros: Carlos Queiroz, a Selecção Nacional e a FPF estão de parabéns.

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Os instrumentos de tortura verbal, os espartilhos da confiança e as penas crivadas de saudosismo bacoco têm de se submeter a um recolher obrigatório. Sem santinhas, sem mezinhas, sem agressões a atletas adversários, sem exemplos de arrogância e malcriadez para com a comunicação social (quem não se sente não é filho de boa gente), Portugal está no Campeonato do Mundo.

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Carlos Queiroz trouxe organização, trouxe método, trouxe seriedade. Estas valências não podem ser colocadas em causa por alguns jogos menos conseguidos.

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Sem ter uma geração de ouro à sua disposição (Figo, Rui Costa, Sérgio Conceição, Fernando Couto, Pauleta, por exemplo), Queiroz soube edificar o conceito de equipa. Retirou o conjunto dos escombros da desconfiança, sustentou-o e entregou-o à vitória."
Pedro Jorge da Cunha, in maisfutebol

Passámos em Zenica como gente grande. Com qualidade, conscientes do que valíamos, como uma equipa a sério. Não chegou a haver um único momento, um único, em que a Bósnia tivesse conseguido pôr em causa o nosso controlo do jogo, e isso é fantástico, por toda a instabilidade que rodeou esta Selecção e por toda a motivação que rodeava os bósnios. Esta Selecção não tremeu na fase do tudo por tudo, e essa presença de espírito, essa capacidade competitiva, retrata uma evolução clara da equipa como equipa. Isto será, talvez, o aspecto mais constituinte duma Selecção e, neste âmbito, concordo que podemos acreditar que o futuro tem tudo para ser mais risonho.

Agora, o facto de nos termos realmente qualificado, depois de eu e muitos outros já não o acreditarem, não torna tudo num mar de rosas, como uns quantos chicos-espertos querem fazer passar. Não é por estarmos finalmente lá, com uma selecção que tem melhores do mundo e que tinha a obrigação de ganhar um grupo onde era infinitamente melhor, que se legitima a versão destes anedóticos ceguinhos pró-Queiroz de que tudo está bem quando acaba bem. Dizem eles que, ok que a Selecção não joga um caralho, ok que anda com o coração nas mãos, jogo sim, jogo sim senhor, mas agora tem método e seriedade, e isso é que interessa! Por favor, defender isto é demente, tão demente como atacar o Scolari, num vómito declarado, ressuscitando o soco a um sérvio e a lenga-lenga da geração de ouro, para recusar a dimensão extraordinária de tudo o que ele conseguiu cá. Teve tudo a ver, imagine-se, com as mézinhas e as santinhas daquele imbecil, que só nos tornou em vice-campeões da Europa e em quartos melhores do Mundo com uma geração de ouro, não com coxos como um Bosingwa, um Ricardo Carvalho, um Pepe, um Bruno Alves, um Deco, um Ronaldo, um Simão, um Tiago, um Meireles ou um Nani. Com estes, só um milagreiro como o Queiroz podia resultar!

Enfim, estamos lá, e isso ninguém lhe tira. O Queiroz cumpriu um objectivo, numa carreira de quases e de insucessos, teve mérito, e, isso, dou-lhe de palmatória. Agora, não esperem é que eu engula convocatórias desiquilibradas, uma gelante falta de espírito de balneário, os bloqueios tácticos e a total falta de postura no banco, só porque ele cumpriu o que qualquer um de nós tinha o direito de lhe exigir, mas com o triplo do sofrimento. É bom que o Queiroz tenha consciência disto e, sobretudo, que tenha a humildade de querer mudar algumas das suas formas de estar. É que se lhe faltar a lucidez que falta a muitos dos que o defendem, perde ele, e vamos perder todos nós.

1 comentário:

Sérgio Alves disse...

http://ficomeporaqui.blogspot.com/

O meu novo blog. Sérgio Alves