segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Everybody hates Charles

«Não acho que se deva discutir táctica entre treinadores e jornalistas»

«Em sete jogos, tivemos cinco penalties não assinalados. Só pedimos decisões justas»

Carlos Queiroz, após o Dinamarca-Portugal

Um dos muitos e intermináveis defeitos que se apontava a Scolari era a intransigência em não comentar as suas opções. Não justificava convocatórias, tácticas, substituições, não gostava de ser contestado, não admitia certas perguntas até. Fartavam-se de dizer que aquilo não era postura para um seleccionador, que era arcaico e inadmissível, que um estrangeiro pago a peso de ouro, que nunca ganhou nada por cá, não se podia dar ao luxo de pensar que mandava nisto tudo. Com o regresso de Queiroz, era suposto que tudo mudasse. O Professor sempre teve bons media, sempre cultivou uma imagem politicamente correcta, sempre apareceu como um senhor da táctica e, portanto, era suposto ser um prato apetecível para as conferências de imprensa. Afinal, a este respeito, não é tão diferente de Scolari quanto isso. Depois dum empate em mais um jogo que não podíamos empatar, Queiroz não resistiu a debitar umas pérolas. Disse que as suas opções não deviam ser comentadas pelos jornalistas, esses energúmenos da táctica. E disse também que somos a Selecção mais azarada do Mundo a rematar à baliza e que somos perseguidos pelas arbitragens. Ou seja, Queiroz é um génio na abordagem ao jogo, isso nem é comentável!, mas não pode fazer nada porque tem as piores arbitragens e o maior azar do planeta. Há gente assim, sem sorte...

Do jogo na Dinamarca é impossível não retirar duas conclusões: a primeira é que Portugal terá feito, em termos de qualidade de jogo, uma primeira parte ao nível do que de melhor alguma vez produziu. Estreámos um sistema novo mas enchemos o campo, e isso é, de facto, mérito do Queiroz. Futebol apoiado, o Tiago e o Meireles em transições perfeitas, o Deco no lugar em que parte tudo, o Ronaldo solto da ala, a respirar muito melhor. Isto, infelizmente, não foi suficiente para invalidar a segunda: o Queiroz é um dos treinadores com pior leitura de jogo do Mundo. Apesar do golo da Dinamarca em cima do intervalo, não havia razão nenhuma para pensar que fôssemos deixar de assumir o jogo com o losango até ao fim. A Dinamarca não nos estava a anular, minimamente, e aquele golo tinha sido um acaso (provocado por um admirável ser que teve a capacidade de parar no peito no meio de 5 defesas nossos e marcar sem deixar a bola bater...). E o que é que acontece? Entra o ponta-de-lança que faltava (um gajo que dizem que até está habituado a jogar em losango)... mas a equipa, por alguma razão, porque aquilo pareceu lógico a alguém, desfaz-se para o 4-3-3 tradicional, e comete a proeza de foder a segunda parte toda. Na cabeça do Queiroz o problema de estar a falhar golos era o de criar muito jogo!...

Disse, depois do jogo da Albânia, que não acreditava na qualificação mas que continuava a ter fé. Repito-o agora. Fé em que, nos próximos três jogos, a Senhora do Caravaggio continue a não se esquecer de que não temos treinador.

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