domingo, 12 de julho de 2009

All you have to do is listen


Tinha este August Rush perdido num DVD há perto de um ano, mais coisa menos coisa. Já nem me lembro se o saquei a pedido de alguém ou só porque achei que tinha pinta, certo é que nunca tinha calhado. Até que anteontem, algures entre um download falhado e uma vista de olhos pelos "a rever" um tanto ou quanto frustrada, me deparei com ele outra vez. Decidi que sim, mas antes ainda lhe tentei sentir o pulso, espreitar a premissa. Vendo daqui, é daqueles filmes em que isso é pura e simplesmente ilógico, vazio. É que este August Rush é tudo menos um filme que se distinga, à primeira vista, por uma ideia em especial. Pelo contrário, cava, até, com relativa facilidade, uma série de clichés que tinham tudo para lhe pesar bastante no balanço final. A seco, é um filme sobre um miúdo cujo pai não sabe que ele alguma vez esteve para existir e cuja mãe pensa que ele está morto, que foi fruto dum romance duma noite, apagado por um avô irascível e que cresce num orfanato na esperança de que um dia aconteça um milagre.

Provado, o August Rush é, obviamente, muito mais que isso. Diria que é, aliás, das coisas mais delicadas que já vi em cinema e, sem dúvida, um dos melhores romances a que já assisti. É difícil de explicar, porque, sem sequer falar do elenco, é um filme que resulta duma mistura invulgarmente bem sucedida entre um argumento com uma capacidade espantosa para se transcender e uma realização cheia de tacto, feminina, talvez (ou não tivesse uma realizadora), que cria uma envolvência que não é fácil de conseguir. É impossível não reconhecer a dimensão do que faz o miúdo Freddie Highmore ou ignorar a pureza do papel de Rhys Meyers, mas a força de August Rush está em nunca se perder no que não interessa, em jogar, sobretudo, com a linearidade aparente, para recriar todo um conceito novo, fresco, quase de autor, onde nunca se exagera uma ideia ou se prolonga um plano como não se devia, onde tudo parece estar no lugar em que era suposto estar. E depois, claro, há a música. Porque este será sempre, acima de tudo, um filme sobre música e sobre tudo o que ela pode representar.


1 comentário:

C● disse...

também adorei x) *