sábado, 6 de junho de 2009

A Senhora do Caravaggio, em nome dos velhos tempos

Foi preciso um milagre para ganhar na Albânia. Há Bosingwa, Pepe, Ricardo Carvalho, Bruno Alves, Deco, Simão, Nani, Ronaldo, mas continua a não haver equipa, nem nada que se pareça, seja contra quem for. A nível de processos e pior, muito pior, a nível de cabeça. O projecto de futebol de luxo já se foi há muito tempo, e o que agora entra em campo não é mais do que um 11 sem um pingo de confiança, que acredita na sorte muito mais do que em si próprio. A equipa não tem espírito, não pressiona, não tem um pingo de mentalidade. Eles são bons, vê-se, como se fosse preciso, nas arrancadas do Ronaldo ou do Bosingwa, nos passes do Deco ou do Meireles, mas isso não chega. Andaram-nos tanto tempo a pregar que quem tem destes jogadores tem de jogar bem, que menos que isso é um insulto à nossa inteligência. Agora, além de não jogar, esta equipa vagueia.

Se calhar nem tenho grande moral para falar porque fui dos que, Scolari perdido, mais se entusiasmou com a vinda do Queiroz. Hoje, mesmo sem gostar de alinhar em ondas, acredito que foi um erro. O Queiroz é um pensador, um grande metódico, mas não é um líder. Pode ser um génio a desenhar equipas, e está aí o United a falar por ele, como o próprio Ferguson reconhece, mas não é e provavelmente já não vai a tempo de ser um número um. É um professor, um filósofo do bom futebol, alguém que conseguiu fazer dos nossos miúdos bicampeões do Mundo e que pôs o Real a jogar, nas palavras de Valdano, o melhor futebol da década, mas que está condenado a não ser um vencedor. Falta-lhe o instinto, a sagacidade. Falta-lhe o nervo para ser um condutor de homens e isso, infelizmente, não se aprende.

Apesar de tudo, continuo a ter esperança que a selecção esteja na África do Sul e continuo a ter esperança que o Queiroz se supere e me contradiga. Toda a esperança do mundo. Porque futebol é futebol, porque as pessoas se transcendem, e porque acho que o Queiroz o merecia, como poucos. E porque não sou derrotista e não sou obcecado por demonstrar o meu ponto de vista. Oxalá que, no início da próxima época, com o balão ganho hoje, esta equipa se faça grande na Dinamarca e na Hungria, e que ponhamos os dois pés na África do Sul. Tenho esperança, sim, mas, depois de hoje, custa-me a acreditar. Porque esta equipa parece derrotada há muito tempo, e porque, no fundo, o que aconteceu hoje é um contra-senso. Porque não é suposto que equipas desenhadas como esta, planeadas como esta, ganhem assim. E a Senhora do Caravaggio, mesmo que ainda se lembre de nós de vez em quando, já não mora aqui.

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