terça-feira, 31 de março de 2009

Serviço Militar Obrigatório Selectivo

O dia da Defesa Nacional até tem pinta. Não é o berço de todo o nosso patriotismo e cidadania, mas permite visitar sítios com piada, ouvir um par de histórias de gente interessante e até passar a compreender como é que a coisa funciona. De acordo que isso não é motivador o suficiente para nos prender 8 horas num dia e que muito daquilo é chato e inútil, mas vá lá, se a coisa é obrigatória e antes durava 6 meses, mais vale um gajo não se pôr com merdas.
O que fode o dia da Defesa Nacional é a nossa colorida companhia de viagem. A nossa barulhenta, insuportável e extraordinariamente acéfala companhia de viagem. Na verdade, esta companhia de viagem encerra em si todo um mistério um tanto ou quanto perturbador: não interessa a maneira como ela se eterniza ao longo dos anos, não interessa o quando nem o onde, certo é que, quando for a nossa vez, a tradição vai ser honrada. E lá estavam lá eles hoje, os meus cromos a brilharem na manhã. Quis sabe-se lá o quê que, ao longo do dia, o meu contacto com estas alminhas se tivesse resumido a uma meia dúzia de cruzamentos, mas a verdade é que momentos na presença deles são momentos especiais. E pronto, inspiram um gajo. Entre piadas apalhaçadas, bocas asneironas, escarros no chão, queixas da comida e perguntas tontas, um gajo é todo inspiração.
Portanto, cá vai: o serviço militar devia voltar a ser obrigatório. Sanguinária e violentamente obrigatório. Mas só para quem precisa dele, para quem nunca aprendeu em casa o que se ensina na tropa. É que realmente não vale a pena andar a pagar a recruta a toda a gente. Mas garantir às pessoas o que elas mais precisam é dever do Estado. E 5 semaninhas de recruta era tudo o que estas crianças precisavam.

quarta-feira, 25 de março de 2009

Bolonha não é uma vergonha

Até se chegar à Faculdade, Bolonha não é mais do que um nome. Mais uma ideia qualquer para apresentar trabalho de quem não sabe o que é uma sala de aula. Mas só isso, mais uma, para uma geração que apanhou de tudo, das aferições às globais, e que por isso aprendeu também a não estranhar facilmente. Ouvimos falar mal do Processo, coisa nova, mas nem lhe ligamos assim tanto. Eu, pelo menos, não ligava. Achava até que gerava o alarido normal para qualquer coisa que ainda agora tinha chegado, o barulho do costume, mas que num piscar de olhos se ia instalar e noutro nunca mais ninguém voltava a falar dele. Talvez por nunca ter querido saber, é que ainda fui dos que chegou à Faculdade a pensar que aulas eram as que me apetecessem.
Afinal não, Bolonha não é uniformizar os cursos a nível europeu, incentivar a formação e a mobilidade dos cidadãos e fazer crescer as oportunidades. Bolonha é, na pele e na sua verdadeira essência, ter de ir a três quartos das aulas sob pena de chumbarmos inapelávelmente, é andarmos a perder horas e a morrer de tédio para podermos assinar folhinhas e dizermos presente. Porque passar duas horas a ouvir falar de sociologia, numa disciplina de investigação, num curso de jornalismo, com vontade de dar um tiro na cabeça e a escrever textos como este em vez de estar a tentar fazer um esforço sobrehumano para perceber o que é que há de matéria num monólogo de 120 minutos sobre nada, é infinitamente mais produtivo do que estar noutro lugar qualquer a tentarmos fazer qualquer coisa útil, a tentar viver um bocadinho. Porque o que Bolonha veio trazer de novo, foi passar a tratar gente a quem a sociedade reconhece maioridade, gente que, em muitos casos, aos 18 anos tem de fazer as malas e se fazer à vida se quer ter uma oportunidade para se formar, como criancinhas de creche que, apesar das estratosféricas médias de entrada, não têm capacidade para distinguir quais as aulas que prestam e quais as que não. O que Bolonha veio trazer é ridículo e impensável, é desesperante na verdadeira acepção da palavra, e só tem como resultado prático permitir a um punhado de incompetentes apresentar a sua folha de serviços, porque caso contrário teriam as salas, pura e simplesmente, vazias. Talvez seja por isso que pagamos o que pagamos de propinas.
Que fique claro que não ponho em causa, em circunstância alguma, a dedicação ou o gosto pelo que fazem, até a sua condição de pessoas, de boas pessoas. O problema é que, como em tantas outras coisas não vida, para ser professor, ainda por cima no escalão mais alto que essa profissão pode proporcionar, não basta (não devia, pelo menos, bastar) ter boa vontade. É preciso ser bom. E desconfio que, antes de Bolonha, essa distinção ficava até bastante clara. Portanto, ao contrário do que se andou a gritar ontem, não acho que Bolonha seja uma vergonha. Acho, sinceramente, que é muito pior que isso.

segunda-feira, 23 de março de 2009

O país em que é preciso morrer primeiro

Ou estou muito enganado ou uma certa maioria não gosta dele. Porque é arrogante, claro. Mas também porque é desdenhoso e impertinente. Porque fala de mais e porque atira sobre toda a gente. Porque não se esforça por ser coerente. E também porque teima em gritar aos quatro ventos que é especial. Eu, pelo menos, desconfio que o problema dele é ganhar de mais. O problema dele é ser muito bom no país do mais ou menos, no país em que o suficiente é mais do que suficiente. No país em que quem vai para além disso é todo ele defeitos, num país que faz questão de se colocar na linha da frente para deitar abaixo quem verdadeiramente o honra. Num país que não tolera o sucesso e que, cada vez mais me convenço, não o merece. Num país em que vigora o bota-abaixo e onde as pessoas só prestam depois de enterradas.
Assim, como não podia deixar de ser, na semana em que alguém se lembrou de conceder uma não mais que simbólica homenagem àquele que é, custe a quem custar, o treinador português mais bem sucedido da História, não faltou quem achasse que valia a pena contestar. Um punhado de almas que se faz ouvir por ter Catedrático antes do nome, cuja reputação dificilmente vai para além das 4 paredes da sala de aula mas que, ainda assim, entende que Mourinho não é gajo para receber estas coisas. Até de Bioquímica se ouviu que antes Jesualdo ou Queirós, antes até Vingada, do que Mourinho. Esse não. Não tem anos suficientes. Porque obviamente o reconhecimento não vem do talento e da competência, vem do grosso de anos de trabalho. Se é assim que eles percebem, se é assim que são quem são, só assim é que pode ser.
Enfim, valeu o que valeu, um títulozito pitoresco no DN mais um par de pérolas, tais como "recebi o convite mas claro que não vou". Claro que não. Quando é o Mourinho dá para ver na TV.

Quando abrir a boca é o problema. Sempre

"A única coisa que o Sporting fez para se bater pela verdade desportiva foi ter Soares Franco sentado ao pé de Pinto da Costa a toda a hora"
João Gabriel, Director de Comunicação do Benfica, citação livre
Pelos vistos, já é tradição. Vem esta alminha, figura cada vez mais carismática do universo futebolísitico português, abrir a boca, e ficam todas as pessoas com um QI acima de 10 com vontade de chorar. Agora, na sequência da saída do sporting da direcção da liga, no pós-taça carlsberg, foi vê-lo vir hoje com alarido mandar mais um dos seus coloridos bitaites, na pele, sabe-se lá como, de reacção oficial do benfica, tentando justificar não se sabe muito bem o quê, através de argumentos que não se percebem muito bem quais são. Isto quando, tal como disse Dias Ferreira na SIC, condenando-se mais ou menos os exageros, o sporting teve sempre o cuidado de manter o benfica fora da coisa. Enfim, há deles que deviam ser proibidos de abrir a porra da boca.

domingo, 22 de março de 2009

É do nome

Foi ontem o Lucílio a ver o Pedro Silva a agarrar na bola e hoje o Paulo a ver o Vidigal atropelar o Lisandro. Em comum? Além de obviamente verem coisas a mais, o sobrenome, um todo significativo Baptista. Se calhar há quem diga que era preciso o benfica ganhar qualquer coisa este ano e que se o porto quer resolver o jogo cedo, o porto resolve. Eu cá não entro nessas coisas. Para mim é do nome!

Afinal o Lucílio não é grande coisa

Uma das coisas que ser adepto de um clube pequeno nos ensina é que, se alguém vai ser beneficiado, esse alguém não seremos certamente nós. Os árbitros podem errar por causa da fruta, por causa de promoções, por quererem beneficiar o seu clube, por não quererem ser comidos no pós-jogo, ou, pura e simplesmente, por serem incompetentes, por tudo e mais alguma coisa, mas o facto é que erram sempre para o mesmo lado. É por isso que é quase inevitável, para adeptos como nós, dos pequenos, não ter um certo gozo quando um dos estarolas, um dos do costume, se vê com razões para chorar a sério. É quase uma materialização do "ladrão que rouba ladrão", um tragozinho de justiça divina, que é reconfortante, por mais insignificante que possa ser. Não escrevo isto, portanto, para lamentar seja de que maneira for a sorte do sporting ontem. Para mim, um anti-grandes convicto, um indiferente em relação a essa praga que devora o futebol português, o jogo de ontem não me dizia nada para além do futebol em si. Digo até que, não fosse o golo escandaloso do Vukcevic em Vila do Conde, talvez o Sporting nem tivesse estado no Algarve ontem.
Só escrevo isto para deixar a minha quota-parte no apedrejamento público dalguém que, há semelhança de tantos outros, durante anos a fio, mesmo com provas sucessivas da sua incompetência, sempre acompanhada da enervante sobranceria saloia, se passeou nos nossos relvados cheio de si, conservando, porventura à custa de muitos relatórios de amigos observadores e dos compadrios típicos do nosso futebolzinho, a imagem íncólume de um dos árbitros FIFA mais distintos do país. Se me perguntarem por um roubo de igreja do senhor Lucílio, é verdade que provavelmente não vos sei dizer. Mas talvez também por isso o caso dele seja tão grave. É que mesmo sem uma marca de morte, a tal que ele é capaz de ter selado ontem, não tenho a mais pequena hesitação em dizer que ele não vale nada. E não é de agora. Claro que amanhã o senhor vai vir dizer que os árbitros também são seres humanos, que, no fundo, não passam de uma profissão amadora e que também têm o direito de falhar, como os treinadores e os jogadores. A questão é que jogadas como a de ontem vão para além disso, fazem-nos questionar como é que alguém falha assim a este nível, como é que alguém pôde lá chegar sendo capaz de tomar decisões tão enviesadas em momentos tão decisivos... e em jogadas que nem forçadamente podem ser consideradas discutíveis.
Enquanto não se puderem exigir responsabilidades, o caminho vai ser sempre este. Sempre redudante, sempre de 1 semana de barulho e 2 de jarra até que exploda mais um escândalo e se volte a perceber que o problema não está resolvido. Pelo menos durante a semana que se seguir. Resta é saber até quando vai haver gente para se chatear.

Deixem contar um segredo

Há muitas coisas em relação às quais nunca vou perceber grande coisa, e magia será, concerteza, uma delas. Não tenho sequer nenhuma razão aparente para gostar da coisa, porque o meu contacto com ela resume-se a não mais que um par de filmes. Nunca tive um mágico numa festa de anos, nem sequer fui, alguma vez, a qualquer coisa que se possa ter chamado de espectáculo.
Facto é que, apesar disto tudo e de mais alguma coisa, admiro e respeito a magia como qualquer coisa que idolatrasse desde miúdo. Vejo o Prestige e tudo aquilo faz sentido, tudo aquilo tem significado, tudo aquilo impressiona. Impressiona não porque não saibamos que é ilusão, mas exactamente porque sabemos. Porque o que conta ali é a atmosfera, o truque, o momento, o talento de quem o faz. E não o segredo. Magia é muito mais que isso.
Por isso é que me arranhou tanto a aberração de programa que acabou hoje na SIC. Uma palhaçada que foi mantida no ar durante muito mais do que devia e que, descobrimos hoje, só foi motivada por um sentido conscencioso extraordinariamente alto do seu protagonista, que só a fez por amar a magia para lá do que podemos imaginar.
Para ser claro, e aí estou realmente de acordo com a personagem, não acho que esta triste aparição vá ter algum efeito sobre o que quer que seja. O que não significa que não seja um problema. É que nos virem dizer que o gajo não escapa dum caixão soterrado porque tem poderes mágicos é pouco mais do que um insulto à nossa inteligência e, como tal, mais tarde ou mais cedo (e neste caso definitivamente mais cedo), vai ter o esquecimento que merece. Mas é mau que baste querer, para se destruir uma coisa tão admirável e tão particular como a conduta dos mágicos, como o segredo da profissão. É mau que a magia seja apresentada assim, nos dias de hoje, tão banal e esfrangalhada. Tão desmistificada. É mau que haja um palhaço a dizer que só o fez por gostar dela. E é mau que coisas destas tenham audiência. É mau e, pelo menos a mim, dá que pensar.
Mas se calhar é isso, como dizia o outro hoje, se calhar o problema é meu.

Olá outra vez

Já tinha tido vida, morreu e agora voltou. Tu Não Lideras Bem com o Sono porque foi um nome fruto da inspiração duma madrugada. O melhor tipo de inspiração.

E segue dentro de momentos.